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Empoderamento da raça negra – uma utopia possível

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Por que os negros ainda são exceção em cargos executivos no mundo corporativo? Falar sobre a exclusão da raça negra no mundo do trabalho é sair da zona de conforto e provocar uma reflexão sobre questões que nos fazem repensar valores, atitudes e comportamentos.

Aqui caberiam dados estatísticos da miséria, pobreza, violência, genocídio, todos coloridos de preto, mas pontuarei este dado: dos 12,3 milhões de brasileiros desempregados, 63,7% são negros. Lembremos o círculo vicioso: escolaridade de qualidade inferior, trabalho com baixa remuneração, dificuldade de aprimoramento educacional, marginalização e submissão.

Em 2010, do total de 190 milhões de brasileiros, 14 milhões se declararam negros e 82 milhões, pardos, representando 50,5% da população. Hoje, são mais de 55% e esse percentual vai aumentar cada vez mais impulsionado pelo “orgulho de ser negro”.

Essa população, até então invisível, vem excluindo de vez a vergonha e o medo do seu posicionamento como cidadãos plenos, principalmente no ambiente de trabalho que ainda teima, em sua maioria, em receber afrodescendentes pela porta dos fundos.

É nesse momento decisivo de acesso ao trabalho que muitos atribuem a responsabilidade pelas barreiras à inclusão aos profissionais de RH. Mas, se uma organização tem como política a inclusão com equidade, esta deveria ter sido disseminada à totalidade do público interno e externo e, também, ser monitorada e realimentada por compliance.

O que impede a trajetória racional desse processo? O preconceito, os vieses inconscientes armazenados em nossa mente, que respondem sempre quando nos confrontamos com situações que nos “ameaçam”.

Relacionar-se com seres humanos diferentes é ameaçador para aqueles que não tiveram a oportunidade de receber uma educação problematizadora, sendo moldados às verdades predominantes sem questionamentos à hegemonia imposta. E o relacionamento com a raça negra é um dos mais “ameaçadores”. Foi assim enraizado em nossas mentes pelos mais diversos meios de comunicação – família, escola, sociedade, trabalho – e ultimamente ratificada pela mídia eletrônica, que testemunha uma quantidade incontável de agressões físicas e morais, culminando com crimes de morte praticados contra pessoas simplesmente por serem negras. Depende de nós trazer à tona esses vieses e realinhá-los à realidade deste século.

A estética se sobrepõe à ética. A sociedade exige o branqueamento e não aceita o uso de traços sociais, culturais e da história do afrodescendente. Cabelos e cores são barreiras à contratação em algumas organizações.

Na contramão desse cenário, a ABRH-Brasil tem feito abordagem do tema de forma constante e coerente com seus propósitos. Em 2013, com a criação de uma diretoria específica de Diversidade e o apoio das diversas seccionais no país, buscamos sensibilizar líderes e liderados por todo o Brasil para repensarem seus valores, exemplificando com situações práticas. Nessa trajetória, sempre que falamos da questão racial, percebemos o seu impacto, pois o RH ainda é branco.

Por Jorgete Lemos, diretora Executiva da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços e diretora de Diversidade da ABRH-Brasil

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