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10 anos agoon
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Durante anos Lisa Bonchek Adams tem documentado sua experiência ao viver com câncer de mama incurável, já em estágio avançado. Ela compartilhou sua história de maneira muito pública, primeiramente no Facebook, depois em seu blog pessoal, e, finalmente, no Twitter. Adams sempre recebeu apoio incondicional até que, recentemente, os editoriais dos jornais The Guardian e The New York Times a criticaram pelo seu uso da mídia social como uma “espécie de automedicação”. O que se seguiu foi um frenesi da mídia, pois cada publicação se apressou para tomar partido.
A histeria é um indicativo de como a mídia social começou a tornar visíveis, muitas dessas coisas preocupantes que eram mantidas ocultas: o câncer, a doença terminal e a morte em si estão sendo reformulados pelos novos meios de comunicação.
Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no processo de luto, que tem, para muitos, saído das sombras tranquilas do quarto e acalmado as pessoas mais próximos e queridas, através do grande alcance da mídia social no mundo inteiro. O Twitter transmite um novo discurso fúnebre; os perfis no Facebook viram páginas em memória a algum ente ou amigo querido.
Quando Nora Ephron faleceu em 2012, sua página do Facebook se tornou um ponto de encontro para as pessoas com as quais ela mantinha contato em sua vida pessoal e profissional. O seu perfil está ativo até hoje: os fãs de Nora postam citações em seu mural.
É um novo mundo estranho, onde a vida após a morte é eterna e presente. Mas já que tudo acontece no Facebook, por que ele não seria o lugar no qual as pessoas vão para lamentar?
Quase todo mundo está familiarizado com as cinco etapas do processo de luto descritas por Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “On Death and Dying”: negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e, finalmente, aceitação.
As quatro primeiras etapas, bastante claras, não são muito divertidas – elas são os passos os quais você tem que enfrentar a fim de chegar a um ponto no qual você consiga viver com a sua perda. E, nos velhos tempos, era fácil ficar atolado na primeira etapa, era necessária a sua iniciativa para chegar até as outras. Mas agora, com o Twitter, Facebook e Tumblr sempre à mão, é quase impossível isolar-se.
Mas talvez essa crítica reflita mais uma divisão entre gerações que uma falha de caráter. Os adultos que sofrem as perdas podem ver adolescentes tirando fotos de si mesmos a caminho de um enterro e marcá-los usando a #sadday e pensar, “que atitude desrespeitosa!”, mas será que o adolescente sabe como lidar com a morte? Não seria um exagero imaginar que esta é a melhor maneira que ele conhece para alcançar e compartilhar a perda com seus amigos. (Embora possa ser um pouco mais difícil perdoar a mesma atitude do presidente Barack Obama.)
“As pessoas querem se sentir parte de alguma coisa”, declara Tamara McClintock Greenberg, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia, São Francisco, à Newsweek. “O Facebook permite que as encontrem sua rede de pessoas que vão lhes ser muito solidárias”, finaliza Tamara.
Ben Nunnery, 34 anos, natural do Kentucky, cuja esposa, chamada Ali, faleceu em 2011 de câncer de pulmão, aprendeu que o excesso de compartilhamento pode levar a cura. Antes de sua esposa morrer, o casal tirou fotos juntos em sua primeira casa; Depois que ela faleceu, Ben recriou as fotografias com a sua filha de três anos de idade, Olivia. Ele compartilhou essas imagens com toda a sua rede social e recebeu uma avalanche de apoio. Nunnery nunca esperou que as fotos teriam um impacto tão grande.
“Eu acho que [a mídia social] permite que as pessoas se conectem mais facilmente e… que não é só uma plataforma para compartilhar nossa dor, eu acho que ela ajuda outras pessoas a suportar a dor”, comentou Nunnery à Newsweek.
Há algumas coisas a serem consideradas antes de você lamentar no SnapChat. Embora você possa sentir como se recebesse toneladas de apoio, expondo-se em mídia social, você poderá enfrentar críticas por parte de estranhos e, pior, a rejeição dos amigos e da família. A exibição pública da tristeza e da emoção vem com os riscos.
Há também o perigo de que as novas tecnologias possam estimular a negação e torná-la mais difícil de lidar. Em 2009, depois que os usuários se queixaram de ver “amigos sugeridos” de pessoas que já haviam falecido, o Facebook começou a desativar os seus perfis e criar “memoriais”, a pedido de seus entes queridos. Os perfis imortalizados não acabam – eles vivem na eternidade (ou pelo menos enquanto dura Facebook) e dão aos amigos e familiares a oportunidade de olhar para trás nos posts, mensagens e fotos antigas.
Esse é o tipo de coisa que pode facilitar a cura, mas, também, pode ir longe demais. Um aplicativo lançado no ano passado chamado LivesOn, por exemplo, oferece a promessa que “quando o seu coração parar de bater, você vai continuar a quitar”. Funciona assim: Você fornece um acesso total para ler tudo o que já disse on-line e ele cria uma “continuação virtual” de sua personalidade depois que você morrer, imitando o seu comportamento.
É uma coisa estranha, a Internet é tanto transitória quanto permanente. É um lugar onde 140 caracteres (# RIP) podem ser de valor para um sentimento significativo e onde selfies fúnebres são postadas por jovens de 14 anos. Também é um lugar onde os serviços funerários assumem um tom de indefinição e a morte pode se estender tanto para frente, quanto para trás. Em última análise, tal como IRL, lamentar on-line é muitas vezes complicado, contraditório e muito pessoal. Quer se trate de compartilhar a alegria ou a tristeza de alguém, sentir-se conectado é uma parte da experiência humana que a tecnologia está tornando mais fácil.
© 2014 Newsweek.