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A investida chinesa no Brasil

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luiznais

A investida chinesa no Brasil

Sob uma perspectiva comercial, a aproximação da China com o Brasil representa uma grande oportunidade de desenvolvimento para o país. Além de ser nosso maior parceiro comercial, os chineses possuem o maior mercado do mundo, com crescente renda per capita e enorme potencial de consumo. E como já é sabido, sua pauta importadora coincide em muito com a pauta exportadora brasileira de commodities.

A agenda de investimentos no Brasil inclui a criação de um fundo de investimentos de USD 50 bilhões, que serão distribuídos de maneira estratégica entre linhas de crédito e investimentos em infraestrutura. O anúncio dos recursos para os setores de energia, transportes, agricultura e outros – acontece num momento em que o governo corta gastos da ordem de BRL 70 bilhões, reduzindo severamente o orçamento previsto para 2015, e tem as maiores empreiteiras do país envolvidas em escândalos de corrupção.

Enquanto o Estado reduz aportes substanciais em busca de equilibrar as contas públicas, os produtores nacionais continuam a padecer por conta da parca infraestrutura e pelo esgarçamento do mercado consumidor doméstico. Nesse contexto, a possibilidade da construção da ferrovia transoceânica fortalece as expectativas do agronegócio e da indústria, e as linhas de financiamento de projetos estruturais fornecem uma alternativa à paralização das grandes obras por falta de recursos. Atualmente, uma parte substancial da exportação de grãos é perdida no processo logístico, não apenas pela falta de alternativas à malha rodoviária, em um território de dimensões continentais, mas também pela má conservação desta. Em outros casos, o custo do processo logístico é tão caro que o produto nacional perde competitividade no mercado internacional e não chega a cruzar as fronteiras.

O governo brasileiro tem de aproveitar a onda de investimentos chineses, motivada também pelo vácuo financeiro por que passamos, para expandir suas alianças e ganhar espaço no mercado internacional. Abrir-se, neste momento, é fundamental para dar fôlego à indústria nacional e impedir que o país fique isolado. Nesse sentido, o segundo mandato de Dilma Rousseff parece estar orientado nesta direção. Desde sua reeleição, os desdobramentos da política externa indicam uma quebra de paradigma, que hoje está fundamentado na diplomacia comercial, em maior abertura à participação do capital privado nos empreendimentos públicos e na busca por acordos bilaterais.

A ampliação da presença chinesa na América Latina traz ainda oportunidades para além do capital asiático. De olho em sua zona de influência nas esferas política e comercial, os Estados Unidos devem sinalizar interesse na aproximação com a região, visto que o premiê chinês, Li Keqiang, também celebrou acordos com a Colômbia, Chile e Peru. No mês de junho próximo, a presidente brasileira tem uma visita marcada ao país vizinho, o que configura um momento ideal para negociar os interesses brasileiros. Por isso, Dilma tem de ver este encontro de maneira pragmática.

Em meio a esta disputa de mercados, o Brasil tem diante de si uma porta de saída para a crise econômica que se instala no país. Se lançar mão de uma diplomacia pendular será possível posicionar também os interesses do mercado brasileiro entre os gigantes do comércio mundial. Com a readequação cambial, o fortalecimento da infraestrutura nacional e a ampliação dos mercados para os produtos brasileiros, a economia tende a se recuperar com maior rapidez, deixando um legado de maior sustentabilidade no processo de crescimento econômico futuro.

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Luiz Renato Arietti Nais é publicitário, e bacharelado em Relações Internacionais. Amante dos livros e do conhecimento. Dois-correguense, corinthiano, mochileiro e inventor de apelidos. © São Paulo Times.

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