
A moda de estar na moda.
Ela chegou animada, quase em êxtase, me puxando pelo braço e me cobrando: como assim você nunca tomou uma paleta mexicana?
E antes que eu tivesse tempo de explicar, ela foi falando de todas as qualidades.
– É uma delícia… tem sabor de frutas, é mais grossinho e dentro tem um recheio cremoso. É espetacular.
Eu quis argumentar, mas não deu tempo.
– Essa semana eu fui comprar uma, tava com a fila virando a esquina. Fiquei quase uma hora lá, mas valeu a pena. É tradicional mexicano. Você precisa experimentar.
Perguntei o sabor que ela tinha experimentado.
– Morango com recheio de nutella. É o melhor de todos. Quando for tomar, pede esse.
Me pareceu que nutella não era uma das coisas mais tradicionais do México, mas essa ideia se tornou menos importante do que a afirmação: “quando for tomar”. Eu tinha perdido a oportunidade do “Se”.
Quando eu percebi, já estava com a moça em uma fila, separando o valor de um almoço pra comprar a moda das modas do momento.
Pedi convicto, como ela me disse: quero o tradicional, de morango com nutella.
Abri a embalagem, não impressionou tanto.
Tomei a paleta, às vezes sendo interrompido pra sorrir amarelo quando ela me perguntava “não é mesmo espetacular?
É…. É um sorvete. Sem tirar nem por.
Não tem nada de especial, exceto a histeria coletiva.
Talvez por estar acostumado a provar sorvetes desde pequeno eu não tenha dado o devido valor.
Vai ver a moça nunca tinha tomado. E o primeiro sorvete da vida realmente faz a gente acreditar num mundo melhor.
Ou talvez, eu seja um chato mesmo.
Não gosto de modinhas.
Não vejo graça em food truck, a união perfeita do preço da alta gastronomia com o desconforto da comida de rua. Não gosto de brigadeiro gourmet. E coxinha, pra mim, tem recheio de frango. Não de ossobuco. Pipoca, não precisa vir em embalagem minimalista. Pode ser aquela do carrinho, feita no óleo de soja e em panela com manivela.
Pode ser que seja isso mesmo. Eu que não vejo graça nessas coisas da vida. Ou vai ver, são as pessoas que não vêem graça na própria vida e precisam inventar essas coisas pra se sentir feliz.
No fundo, eu devia era ter pego um Chicabon na padaria. Teria voltado pra casa mais feliz.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014