Connect with us

A síndrome do eterno começo

Published

on

Paulo

A síndrome do eterno começo

Por que muitas iniciativas beneficentes tem dificuldades em ir além do “primeiro passo”?

“Conta mais?”

“Me explica como funciona”?

“Me dá detalhes para que eu possa entender como ajudar”?

Nos últimos anos, tenho trabalhado com grande envolvimento em diversas iniciativas voluntárias de vários tipos. O grupo que mantenho no Facebook, para postar e debater assuntos do Novo Mundo, e que reúne milhares de pessoas; a página referente ao meu livro (O Mensageiro – O Despertar para um Novo Mundo), que também tem milhares de interações todos os dias; o grupo de centenas de leitores e amigos e pessoas próximas que age como voluntário para espalhar a mensagem. Some-se aí os associados e parceiros do Instituto Nikola Tesla de Brasília, do qual sou conselheiro e representante no Estado de SP; e os mais de 300 voluntários ativos que formam o time de trabalho do New Earth Project, uma organização global da qual participo como diretor de comunicação, e que atinge literalmente centenas de milhares de participantes no mundo todo.

Todas essas iniciativas e organizações, entre si tão diferentes (embora todas trabalhando voluntariamente para o que eu chamo de Novo Mundo) vou dizer que existe um primeiro desafio que é absolutamente igual: dar conta dos infinitos pedidos de explicações individuais que recebemos todos os dias. Se isso é, obviamente, algo que nos mostra que há algo de importante sendo dito, porque muita gente nos procura e nos escreve todos os dias– por outro lado, cria uma dificuldade básica: é muito difícil ir adiante e fazer com que as coisas aconteçam, se estivermos todos, o tempo todo, explicando o básico sobre a iniciativa para os recém-chegados.

O desafio faz parte de toda nova idéia, de toda nova iniciativa. Inicialmente, é preciso criar relevância, e um número razoável de interessados. Porque por mais linda que seja uma idéia, se ela fica entre apenas meia dúzia de pessoas, dificilmente poderá criar alguma mudança real. Então, o primeiro passo é sempre: criar as linhas fundamentais, algumas definições, criar um blog ou um website, ou alguns vídeos, e nestes canais colocar as explicações fundamentais sobre o assunto. Assim, quando alguém ouve falar sobre a iniciativa, vai até essa fonte; lê, assiste o vídeo ou se informa sobre o que está sendo feito – de modo que possa verificar os princípios e definir se quer ser parte daquilo.

Muito parecido com o que acontece, há muitos anos, com as entrevistas de emprego, por exemplo. Entrevistei e contratei literalmente centenas de profissionais ao longo de mais de 25 anos de carreira em comunicação; e continuo fazendo isso (agora com voluntários, ao invés de “contratados”). Nada, mas nada mesmo, me deixava tão decepcionado com um candidato  do que ele me perguntar coisas básicas sobre a empresa à qual estava se candidatando para trabalhar. Porque, do lado de quem entrevista, surge a pergunta impossível de se evitar:

–       “mas se ele não sabe nada sobre esta empresa, como pode dizer que quer trabalhar nela?”

No caso de atividades profissionais remuneradas, existe, ao menos, uma explicação (e veja que eu escrevi explicação; porque isso explica, mas não justifica): o candidato está interessado no salário ou ao menos ouviu algo positivo sobre a empresa. Isso está longe de ser suficiente para justificar que se queira trabalhar lá, mas ao menos é uma explicação.

Já no caso das atividades voluntárias, nem isso: não existe remuneração. É tudo sobre alinhamento de idéias, vontade de agir e colaborar. E é por isso que a pergunta fica dez vezes mais impossível de evitar: “se ele não sabe nada sobre essa organização e nossas idéias, como ele pode dizer que tem interesse em ajudar?”

Apesar disso, muitas vezes (centenas de vezes, na verdade) expliquei, pessoalmente; por email ou por redes sociais, qual era o objetivo de um grupo, a que ele se dedicava, quais eram suas buscas e idéias. E fazendo isso, descobri uma coisa: isso não se faz. Não porque seja ruim; mas porque é inviável, ou vai ser, assim que o grupo envolva mais do que a proverbial meia dúzia de amigos. Simplesmente não vai ser possível fazer isso para todos os que vão perguntar. Ainda mais relevante do que isso: quem efetivamente está interessado, se dispõe a ler as páginas de um site ou assistir uns vídeos; ou ler um PDF. Ou até um livro. E quando aparece depois com perguntas, elas serão específicas e claras; algo como: eu tenho um salão na minha casa, interessa realizar um evento lá? Ou eu tenho tempo um dia por semana para poder ajudar traduzindo algo que seja preciso, por onde devo começar?  Vê a diferença?

A experiência nesses anos me mostrou que; daquelas centenas de pessoas que fazem perguntas amplas, básicas e genéricas, uma ínfima minoria realmente decide fazer algo, se engajar e colaborar. E me ensinou também que,  se usarmos todo nosso tempo respondendo às perguntas básicas, não teremos tempo para efetivamente realizar as coisas que devem ser realizadas. Ainda pior: deixaremos em segundo plano justamente os voluntários engajados, aqueles que se colocam de verdade à disposição para fazer algo.

Assim, hoje, se alguém faz perguntas específicas, com dúvidas pessoais, dirigidas e claras, eu dedico o melhor do meu tempo para elaborar a mais completa resposta possível, e tenho o maior prazer em fazer isso. Mas se alguém me pergunta algo que está escrito e explicado em dezenas de páginas, documentos e diversos canais online, cada dia há mais chances de que eu responda apenas enviando um link.

Então, se você responde por uma atividade voluntária, fica o conselho: coloque todo o básico sobre sua iniciativa disponível online e pare de gastar tempo precioso dando a mesma resposta dezenas de vezes. Isso cria o “eterno começo” da sua iniciativa: ela nunca sai do lugar, porque está sempre repetindo o “passo um.”

E se você tem interesse verdadeiro em ajudar uma iniciativa voluntária, por favor: informe-se sobre todo o básico ANTES de sobrecarregar os voluntários com as perguntas cujas respostas já estão lá, públicas e abertas, esperando que alguém as leia. Principalmente porque, se você não tem tempo ou escolhe não se dar ao trabalho de fazer isso, de qualquer modo não iria também ter o tempo para efetivamente fazer alguma coisa como voluntário para aquela organização.

O trabalho voluntário é sobre AGREGAR, DOAR, ADICIONAR. Não é sobre “solicitar”. É sobre descobrir o que VOCÊ pode dar àquela iniciativa, e não sobre “o que aquela iniciativa pode lhe dar.”

Para terminar, vou postar os links para as iniciativas com as quais colaboro diretamente; todas elas extremamente necessitadas de voluntários que possam agregar:

Site O Mensageiro: http://pauloferreira8.wix.com/omensageiro

O Mensageiro no Facebook: https://www.facebook.com/groups/omensageiro/?fref=ts

Página do livro O Mensageiro no Facebook: https://www.facebook.com/omensageiro.aum?fref=ts

Instituto Tesla: http://www.institutotesla.org/

New Earth Nation: http://www.newearthnation.org/

(Muito conteúdo do Instituto Tesla e todo o conteúdo do New Earth Nation está em inglês. Vai daí que tradutores estão entre os mais importantes voluntários para qualquer iniciativa no Brasil.)

__________________________________________________________________________________________________________

Paulo Ferreira é escritor, coach e consultor em desenvolvimento organizacional do bem estar humano; conselheiro e representante do Nikola Tesla Institute em SP. © 2014.

Continue Reading

Copyright © 2023 The São Paulo Times