
#Aftersex – A hora do gozo final
Então você madruga e tem como recompensa o nascer do sol maravilhoso. Fotografa e compartilha no Instagram. E antes de dormir, ou a qualquer hora do dia, dependendo do cidadão e das circunstâncias, quando acompanhado, antes ou não da conchinha, rola sexo, transa, amor, ou como você queira chamar o que milhares de pessoas, há cerca de um mês, andam postando: cenas pós sexo.
Já não bastasse postar a sobremesa após o almoço, o drink após o jantar, o churrasco após o futebol, agora a nova onda é colocar e marcar com a #aftersex cenas do casal após o coito. Coitado de quem saiu na foto e não soube, como foi o caso de um cidadão que acompanhei em uma reportagem. A namorada, achando o máximo, escancarou a vida a dois para milhares de pessoas.
De tal movimento, fica a pergunta: com a vida tão compartilhada (eu diria exposta) na internet, as pessoas já não conseguem mais ter prazer em suas realizações sem o exibicionismo virtual exacerbado? Mostrar um momento ou outro, o que se fez de diferente no dia, ok. Mas, só no Brasil, segundo dados do IBGE, 28,7 % dos estudantes entre 13 e 15 anos já perderam a virgindade, e sexo não é novidade desde que o mundo é mundo.
Inicia-se uma fase de contravoyerismo? Agora não é o cara que quer ver, mas o fulano que quer mostrar o que fez? Além do sexo escancara-se o próprio corpo e o do outro. Abrem-se as cortinas de uma cena que, por natureza, entre seus encantos, teria tudo para continuar a ser guardada entre quatro paredes.
O pós-sexo rompe as fronteiras cibernéticas e expõe, mais do que um dos momentos mais íntimos do ser humano, a intimidade do outro com quem se compartilha. É um tal de usar o corpo e querer se expor a torto e a direito. É tanta gente frustrada por não ser a capa da Playboy, é tanta gente com a autoestima lá embaixo precisando se achar sexy, que se desfaz do direito à privacidade que se tem.
Será que um dia as pessoas voltarão a usar as redes sociais de forma mais comedida, buscando criar relações humanas e não a fim de achar quórum para suas aventuras? Em que se visa a troca e não a busca por plateia? Em que o gozo final permaneça ainda na cama e não na tela do celular ou do computador? Em que o “curti” da pessoa com quem se transou seja mais importante do que os likes na foto postada?
As redes sociais, em alguns momentos, tem se tornado o palco de peças teatrais bizarras, onde falta o bom senso, o português bem escrito, a troca consistente de conteúdo. Frases, pensamentos e cenas vazias, de pós alguma coisa, transformam as pessoas em marionetes de suas próprias invenções sobre realidades inexistentes. O gozo final deixa de ser real, não só na transa, mas em tudo o que se curte. Ele chega ao seu ápice quando as cortinas se abrem e o público aplaude o que se fez com um simples click.
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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2013.