No carnaval muitas pessoas acabam abusando do álcool nos quatro dias de folia, daí começa o perigo. O álcool estimula os sentidos e desliga o comando do cérebro responsável pela crítica, por isso, quem exagera nas doses perde a consciência do que está fazendo, apresenta fala enrolada, lapsos de memória, falta de equilíbrio e de coordenação motora. Além disso, como a crítica alterada, as chances de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST) ou uma gravidez indesejada aumentam com a ingestão excessiva de álcool.
Conversamos com Dr. Leandro Teles, médico neurologista (CRM 124.984), sobre os principais aspectos que envolvem o álcool e seu impacto no sistema nervoso.
1- Todo mundo sabe que o álcool faz mal para o fígado, mas… e para o cérebro?
Sem dúvida nenhuma o álcool em excesso, seja em quantidade, seja na frequência do uso, gera uma série de alterações agudas e crônicas no sistema nervoso como um todo. O cérebro sofre e os nervos periféricos, também. O álcool traz comprometimento agudo e imediato da função de algumas regiões e, com o passar dos anos, gera alterações estruturais irreversíveis podendo levar a demência, neuropatia periférica, entre outros problemas.
2- Porque quando bebemos ficamos confusos e sem coordenação motora?
Após ingerir o álcool esse se difunde rapidamente para o sangue e é distribuído por todo o corpo. O cérebro recebe cerca de 20 % do sangue que sai do coração. O impacto é imediato, o sistema atencional localizado nos lobos frontais é o primeiro a sofrer, ficamos
desatentos, eufóricos, com respostas motoras mais lentas e desajeitadas. A segunda região cerebral a acusar o golpe é o cerebelo, ficamos incoordenados, cambaleantes e com a fala mole. Por fim surge a sonolência que se aprofunda progressivamente. Já não fixamos nada na memória e se não houver muito cuidado a pessoa pode entrar em coma alcoólico com risco de vida.
3- Como o álcool destrói os neurônios e suas conexões?
O álcool age negativamente no sistema nervoso por diversas vias.
Primeiro, há uma toxicidade direta do álcool ao corpo do neurônio e ao seu prolongamento (axônio). O álcool em excesso destrói diretamente células, conexões e redes inteiras. O cérebro que quem bebe demais envelhece precocemente e pode ficar atrofiado. Além do efeito direto, que bebe está mais sujeito a traumas na região da cabeça e a carência de algumas vitaminas fundamentais para o bom funcionamento do cérebro como a vitamina B1 (tiamina), vitamina B3 (niacina), B6 (piridoxina) e principalmente a vitamina B12 (cianocobalamina).
4- Quem bebe com frequência e para de uma vez pode ter problemas neurológicos?
O álcool vicia psíquica e fisicamente. Isso significa dizer que a pessoa necessita cada vez mais da substância para ter tranquilidade e sentir-se próximo do seu normal. Quando um viciado fica sem sua droga surgem sempre sintomas de abstinência: irritabilidade, taquicardia, pressão alta, excitação psíquica, confusão mental e até alucinações. Neste momento é fundamental a intervenção médica para preservar a saúde do paciente e ajudá-la na transição para a cessação do etilismo.
5- Afinal, um pouquinho de vinho tinto faz bem ou mal ao cérebro?
Consumo regular de baixas doses de vinhos esteve relacionado a uma melhora do perfil cardiovascular. O cérebro fica sim mais protegido quando os vasos que o nutrem ficam mais saudáveis. A substância do vinho tinto responsável pelo efeito benéfico é o resveratrol, presente principalmente na casca das uvas tintas. Agora, não podemos esquecer que tem o álcool envolvido na formulação do vinho. Algumas pessoas tem tendência ao abuso, outras doenças clínicas ou mesmo uso de medicamentos que não combinam com a ingestão de álcool. Essas últimas devem sim evitar essa substância. Portanto, a questão do custo versus benefício no uso regular de vinho deve ser avaliada caso a caso.
6- Como o álcool interfere no desempenho sexual?
Há quem acredite que o álcool é um estimulante sexual, mas na verdade a bebida diminui a inibição e atrapalha o sexual. A princípio, a pessoa não vai associar o álcool com a impotência sexual.
7- Qual é a recomendação para os foliões seguir e não ter problemas com as bebidas em meio à festa?
É importante não misturar as bebidas, especialmente à cerveja e vinho com cachaça, vodka e uísque. Essas combinações não fazem bem ao organismo.
Se for beber cerveja, beba um pouco de água no intervalo de uma cerveja e outra para evitar a desidratação. A alimentação também deve ser levada em consideração, jamais beba de estômago vazio, pois o álcool age mais rápido no organismo e aumenta a rapidez da intoxicação.
A dica para aproveitar o carnaval é beber moderadamente e intercalar a bebida alcoólica com água ou suco para evitar a ressaca no dia seguinte.