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Alegria, coragem e sorte

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Camila

Alegria, coragem e sorte

“Chorei antes da cirurgia, de medo. Chorei depois, de uma emoção que não dá pra explicar”, disse uma mãe de um menino de dois anos e meio, que tinha lábio leporino, em matéria no jornal O Estado de São Paulo. Imaginei o baque desta mulher ao descobrir o sofrimento do filho, ao nascer, segundo descrição na matéria, “com um buraco no lugar da boca em que ficavam, a toda hora expostos, dentes e gengivas”.
Pensei na força que tantos milhões de pais tem que ter para superar situações como esta e na dos filhos pelo que tem que passar. Estamos em uma era em que a tecnologia nos ampara e nos faz ter cada vez mais esperança de que tudo dará certo dentro de um centro cirúrgico.
Quantos medos se passaram pela cabeça desta mãe antes do medo final, aquele que antecedeu a cirurgia? O de que o filho não sobrevivesse, de que tivesse dificuldade para se alimentar, de que morresse engasgado, de que fosse marginalizado, ironizado, prejudicado? E aí, vale a emoção do enfrentamento do medo pela tentativa da emoção da continuidade da vida em melhor condição?
Quantas vezes esta mãe deve ter rezado, pedido, implorado para que seu filho tivesse boca e vida normais? E quando veio a chance, mesmo com medo, enfrentou o desafio e foi em frente: batalhou para ver um novo sorriso no rostinho que ela já sabia amar com aquele sorriso torto e sem lábios desde que nasceu. Quantas lágrimas de dor foram embora e substituídas por aquelas que deram lugar à tamanha alegria que não conseguiu a mãe se quer explicar, tamanha a emoção?
Quantas vezes somos impedidos de viver, em outras proporções, emoções inexplicáveis pelo medo de seguir adiante em determinada situação – porque já nos acostumamos a ver os lábios leporinos da vida e temos receio de enfrentar a “cirurgia” que nos dará vida nova? Impomos a nós mesmos (e por vezes aos outros) prazos e condições sem, se quer, ter a garantia do amanhã. Criamos barreiras, construímos muros e nos aprisionamos em conceitos e preceitos que instituímos para nós.
Às vezes, a vida nos dá a alegria de presente para seguirmos adiante e não nos dispomos a agarrá-la, achando que temos que estar em boas condições para carregá-la, sem lembrar que esta normalmente é leve e pode nos auxiliar a nos desfazer de pesos físicos ou emocionais que carregávamos antes.
É preciso despir-se do medo e vestir-se de coragem, como o coração e a alma daquela mãe, para reconhecer, como ela no novo desenho do rosto do filho, um caminho que dê um novo sorriso para a vida. O enfrentamento da cirurgia criou um novo rosto e um novo caminho ao garoto, agora com menos dor.
O enfrentamento da vida também pode criar novos caminhos. Diferente do garoto, que correu risco de vida, nem todas as situações levam à morte, mas a maioria delas pode sim, levar a um sopro de vida maior. A quem precisa, desejo coragem e sorte.
Amém.

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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2014.

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