Vivemos em um mundo cada vez mais poluído. Nos últimos anos, algumas leis foram aprovadas proibindo odores corporais “ofensivos” em espaços públicos, como as bibliotecas. Existem também políticas que proíbem o uso de perfumes no ambiente de trabalho.
Uma onda repentina de tecnologias perfumadas promete inverter a tendência através da simulação de aromas para os consumidores. Não está longe de surgir, por exemplo, um relógio de pulso que emana o aroma de rosas para sinalizar o horário de almoço ou o fim do expediente.
Aisen Caro Chacin, professor de computação física na New School, em Nova Iorque, está desenvolvendo um relógio chamado Scent Rhythm que lhe permite contar o tempo com base em seu relógio biológico interno. “A cada seis horas, o aparelho emitiria um cheiro apropriado para a ocasião, com um suplemento, a fim de ajudar nas atividades do dia: o cheiro de café pela manhã ou o aroma de camomila à noite para ajudar no sono”, diz Aisen. Apesar de seu uso prático e medicamentoso ainda estar em fase de experimentação, o Scent Rhythm promete uma alternativa interessante para avisar as horas.
Uma das novas tecnologias perfumadas que está disponível comercialmente chama-se The Scentee, do Japão. Este aplicativo de smartphone alerta através de mensagens de texto ou notificações do Facebook não com um sinal sonoro familiar, mas sim com uma nuvem de vapor perfumado que vem de um anexo que você conecta em seu telefone. Os cartuchos de perfume são substituíveis e podem ser adicionados ou removidos do anexo em aromas como jasmim, baunilha, lavanda ou hortelã. Se você é realmente ousado, pode ser alertado por aromas de alimentos, incluindo arroz ou churrasco. O Scentee ainda é um pouco desajeitado: além de estar ligado na tomada, é necessário ter o telefone bem debaixo do seu nariz.
Mais sofisticado e ambicioso é o oPhone (“o” de “olfativo”). Desenvolvido pelo professor de engenharia de Harvard, David Edwards, e seus alunos Rachel de campo e Amy Yin, além de designers e artistas do Le Laboratoire, em Paris, o oPhone permitirá que os usuários enviem aromas equivalentes a frases e parágrafos, graças aos oChips que podem produzir centenas de sinais de odor.
Para David, esta recente proliferação de tecnologias perfumadas veio justamente pela sobrecarga de informações do tipo visual e auditiva, ao passo que há uma escassez de mensagens olfativas. “A revolução da comunicação dos últimos 30 anos nos saturou com informações visuais e auditivas. Isso trouxe a exclusão de um sentido importante que caracteriza uma grande quantidade de informações que decifram a vida real. Esta pode ser uma das razões pelas quais vemos um crescente interesse pela tecnologia de odores atualmente, porque é mágica, sensual, e, talvez, relaxante. Estamos perdendo essa dimensão olfativa na era da realidade virtual”, explica o professor David.
As tecnologias perfumadas têm sua oposição. Pessoas antitecnologia percebem essas inovações como parte de um esforço contínuo para nos alienar de desfrutar uma relação sem mediação com a realidade, como cheirar as rosas em uma roseira. Há também os que acreditam que a tecnologia deve ser uma ferramenta útil apenas em termos funcionais.
Mas, talvez, ao invés de ver as tentativas de acrescentar os aromas na tecnologia como um sinal de nossa separação da realidade, ou reclamar que elas não cumprem uma necessidade urgente, devemos considerar esses esforços uma aproximação entre a tecnologia e o olfato. Um triunfo para os nossos sentidos.
© 2014, Newsweek