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Algumas historietas ou o pequeno elogio da anedota na literatura

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claudia

Algumas historietas ou o pequeno elogio da anedota na literatura

Enfim, um merecido tratado sobre o gênero que é a tampa da panela do humor: a anedota.

Assim como a poesia e o romance, ela é um gênero literário. Só que já foi tão esgarçada e retorcida que nem é mais notada com tal. No Brasil, o Ari Toledo e o Zé Vasconcellos acabaram de chupar os últimos bagaços da dita cuja.

Entretanto, o chiste sempre esteve presente em todas as fases da humanidade. Desde as narrativas mitológicas – Tétis mergulhando seu filho Aquiles no Estiges para torná-lo invulnerável – até o Novo Testamento (sim, ele mesmo) onde a história da mulher adúltera e a do filho pródigo podem ser consideradas piadas – digamos lorotas edificantes, como querem os teólogos e Santo Agostinho.

(Falando na história bíblica da mulher adúltera, um humorista, certa vez, fez a seguinte observação anedótica sobre a narrativa: “se Jesus a perdoou, foi porque não era a dele.”)

Por causa disso tudo e muito mais, os amantes do livro e da literatura não podiam deixar de ser brindados com a oportuna homenagem de Jacques Bonnet. E a Record lança “Algumas historietas ou o pequeno elogio da anedota na literatura”, obra que Gédéon Tallemant des Réaux escreveu no século XVII e foi publicada somente em 1834.

Escritas a partir de comentários sobre a vida de personagens ilustres da corte e as próprias vivências de Tallemant, as anedotas de Algumas Historietas são mais que histórias picantes ou escatológicas. Aqui, esse tipo de composição – por muito tempo malvista – encontra importância máxima na criação de cenários históricos, culturais e, principalmente, no prazer da leitura.

A história da recepção de Algumas Historietas – acompanhada pela análise comparativa entre o livro seiscentista e clássicos modernos e contemporâneos – tem papel central na discussão proposta por Algumas Historietas. O autor encontra ecos de Tallemant des Réaux em autores como Melville, Flaubert, Stephen King, Proust e Aluísio Azevedo.

De narrativa leve e agradável, o livro atesta o talento e a erudição de Jacques Bonnet como escritor e crítico literário. Imprescindível aos apaixonados pelas piadas de salão.

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.

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