
Aquela casa.
Em 95 mudamos para aquela casa.
A mudança para de endereço foi só mais uma daquela época. Ali mudaram as relações da família, criamos novos laços e uma dívida que parecia que nunca iria terminar.
Eu estava na quinta série e cheio de expectativas. Novas turmas, novos professores, novas matérias e, no caso, um novo lugar pra morar.
A casa nova era maior, mais gostosa, mais bonita, num lugar mais gostoso que a casa antiga. São de lá as minhas lembranças de infância. Eu gostava tanto dessa casa que até apaguei da memória a casa velha, tadinha.
Nós escolhemos juntos o chão, as cores, as portas, almoçamos muitas vezes sobre as caixas da mudança. Aos poucos as coisas foram mudando, mudaram os armários, o piso, as camas, as pessoas. Meu irmão mais velho saiu de casa, eu passei a morar no seu quarto, herdando uma cama, armários, um rádio e um cd péssimo do Gulherme Arantes.
Foi ali que eu brinquei, briguei, montei e desmontei bandas, escrevi nas paredes, juntei os amigos, passei no vestibular, me formei, namorei, trabalhei, vivi.
Aquela foi a minha casa até o dia em que casei.
Hoje vou até lá e sou recebido com as portas, os braços e os sorrisos escancarados. Com saudade e um monte de lembranças por perto. Mas é como se eu fosse uma visita muito ilustre e não o dono daquele lugar.
Vejo o sofá, os tapetes, a garagem, a mesa, os armários, meu quarto, os livros, os pratos. Muito pouca coisa mudou. É isso que mais me assusta. Se o lugar é o mesmo as coisas continuam iguais, talvez o que tenha muda seja eu.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014