
Chefinhos
Vi, esses dias, um programa de culinária. Muito legal. Os desafios eram dados, a pressão corria solta, todo mundo desesperado, cozinhando, correndo, pegando ingredientes que não saberia nem soletrar o nome, muito menos saber o gosto que tem. Depois você pega os pratos, leva para três caras renomados da gastronomia e eles dão o veredito: está bom ou está uma porcaria. E uma das pessoas vai pra casa.
Tudo muito legal, a não ser pelo fato de que as pessoas que competiam eram crianças, de 10 a 14 anos, no máximo.
Que mundinho mais esquisito.
Aquelas crianças deveriam não deveriam estar brincando, jogando bola, videogame, boneca, salada mista ou até fazendo besteira, escondidas dos pais?
Podiam até estar cozinhando, mas para se divertir e não para agradar paladares exigentes de chefes renomados.
A humanidade, um dia, inventou a infância. As crianças, que antes eram treinadas para lutar, para serem reis, tinham todas as regras do mundo e não tinham obrigação nenhuma de se divertir, passaram a ter direito ao ócio, a estudar e se divertir.
Agora a moda é o avesso. Quanto mais uma criança se comporta como adulta, mais a gente acha bonito.
Mas não tem nada mais chato do que criança que, quando entrevistada em um programa de tv, fala que se pudesse escolher qualquer coisa que quisesse, escolheria a paz mundial. Criança, você é uma idiota. Eu, quando criança, nunca tive dúvida em nenhuma festa de aniversário: apagava as velhinhas pedindo para ganhar a coleção completa de Comandos em Ação.
Não acho das melhores ideias jogar a pressão de ser um novo talento da culinária em alguém de 10 anos. Nem de vestir as crianças como misses e obriga-las a fazer regimes, treinar coreografias que elas não querem e ter modos de uma princesa da breguice.
Mas sei lá. Vai ver sou eu que estou errado mesmo. As escolas já estão sendo escolhidas pela profissão dos pais dos alunos, algumas prometem que vão gerar os líderes do futuro, como se fossem capazes de prever o que vai ser necessário para ser líder daqui a 20 anos.
Queria pedir desculpas. Filho, desculpa o teu pai. Mas você vai ser tratado como criança. E vai ser legal se você aprender a cozinhar um dia, mas vai ser ainda mais legal se você comer numa boa, feliz, babar, se sujar. E talvez você não vire um chef, nem seja um líder. Mas você vai ter se divertido e, provavelmente, vai ter um monte de amigos.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014