No contexto político internacional dos últimos anos, Índia e Brasil alavancaram cooperação e vêm multiplicando esforços para maior aproximação entre os países. Devido a uma conjuntura econômica similar, e também por conta de ambos constituírem partes integrantes do BRICS, essa estratégia tem potencial para lograr resultados estrategicamente importantes. Apesar de um histórico de comércio bilateral pouco relevante entre as partes, as duas nações pretendem promover suas relações comerciais por meio do fortalecimento e do compartilhamento de oportunidades de investimento em setores de interesse mútuo. Essa estratégia também pode significar um bloco econômico mais sólido entre os países membros do BRICS.
Embora sejam dois países de culturas muito distintas, indianos e brasileiros têm muito em comum. Estados burocráticos, diversidade cultural ampla, corrupção dos agentes públicos, problemas de infraestrutura e de logística são alguns deles, assim como a busca por desenvolvimento e a emergência de seus mercados domésticos também são fatores que os aproximam.
Há grande potencial comercial a ser explorado por estes dois emergentes. Aviação, mineração, ferro e intercâmbio tecnológico são setores que já protagonizam as relações Brasil-Índia, ainda que maiores investimentos sejam necessários para que a parceria decole. Paralelamente a isso, os setores indianos de tecnologia da informação e biotecnologia gozam de grande desenvolvimento e investimentos em pesquisa, o que abre novas possibilidades para acordos estratégicos de transferência de tecnologia para o Brasil, que carece de capital tecnológico e computacional.
Em 2010, o volume de comércio entre os dois países alcançou 7,7 bilhões. Posteriormente, em 2012, a Índia se tornou o 9º maior parceiro comercial do Brasil, responsável por 10.6% de sua balança comercial. Isso colocou o país na 11º posição no índice de importações do Brasil naquele ano, e também elevou sua posição como o 7º maior destino das exportações brasileiras no período.
No que se refere às mercadorias comercializadas, as maiores exportações do Brasil para a Índia são: petróleo, açúcar, minérios de ferro e derivados de soja. Estes foram responsáveis por 77,93% do fluxo de 3.1 bilhões de 2013, enquanto que as exportações da Índia para o Brasil são menos concentradas, com particular destaque para o combustível, item importante para o mercado brasileiro.
Além disso, ainda que o fluxo comercial tenha sido reduzido em 2013, por razões que vão além da disposição desses Estados em cooperar, atualmente o Mercosul tem um acordo de 15 bilhões com a Índia em volume comercial, e este está estrategicamente desenhado para alcançar 25 bilhões em 2015. O Brasil por si não deve obter maiores vantagens deste o acordo assinado em 2005, pois as tarifas aplicadas aos produtos de interesse brasileiro não sofreram grandes reduções em termos de preferências comerciais.
Mas isso certamente pode fortalecer a aproximação entre as duas regiões, Ásia e América do Sul, revelando-se como uma alternativa para a expansão comercial brasileira e um alívio para o mercado regional. O aprofundamento das relações Brasil-Índia pode se traduzir em taxas de preferências comerciais mais competitivas, o que aqueceria suas relações comerciais e impulsionaria o crescimento econômico de ambos. Porém, isso tem de ocorrer por meio da configuração de acordos bilaterais.
Por Luiz Renato Nais