
Como os amores da vovó
Tem um cantinho do apartamento onde moro, onde se escuta o que alguns vizinhos falam. Estava por ali quando ouvi a criançada entonar, completamente desritimado, o parabéns para a vovó. Super empolgados, começaram o famoso “Com quem será”… eu, claro, pensei no vovô, mas…. ouvi uns três ou mais nomes diferentes! Uou!! Quase deixei um convite: “Olá, vovó, vamos tomar um chá, você precisa me contar quais são estes seus segredinhos…”
No dia seguinte, em uma mesa rodeada de amigas, estávamos entre mulheres solteiras, namorando, no primeiro e no segundo casamentos e divorciadas. Ali, não importava em que relacionamento se estava ou se não se estava em algum. Chegamos à conclusão de que, depois de uma certa idade, as expectativas são outras, completamente diferentes daquelas que esperávamos nos namoros juvenis. Se antes se pensava em encher as malas da vida de bagagens conjuntas para construir um relacionamento a dois, acreditando que este seria único, hoje, o que ficou no passado que não sobreviveu, não importa aqui o motivo, deu lugar a outras possibilidades e vertentes.
Pessoas maduras buscam por relacionamentos maduros quando querem algo duradouro. Elas querem poder estar ao lado de alguém que tenha histórias semelhantes ou melhores para contar e compartilhar, com quem dividir e aprender. Que já tenham se dado a chance (e espero que tenham sido felizes há seu tempo) de construírem um relacionamento, um namoro, um noivado, um casamento, que tenham se arriscado. Estranho seria encontrar alguém que nunca experimentou nada assim com tal idade…
Pessoas a partir dos seus trinta e poucos anos, quando se encontram, cobrem-se com uma colcha de patchwork. Juntam retalhos das histórias de um com o outro e do outro com o um e encontram uma nova mala onde guardar. Não tem como não trazer lembranças de outras histórias – uma deixou um trauma que o cara vai ter que aprender a lidar, a dela trouxe filhos, com quem ele conviverá – e pode até ajudá-la com eles, se precisar.
Com esta idade, apesar de ainda terem vida longa pela frente, a maior parte das pessoas já passou por lutos, fracassos e frustrações. Tão doloridos, mas tão esperados, normais – é ser tão ser vivo, ter vivido de verdade, tão construtores de uma maturidade que só isso é capaz de trazer, que às vezes a gente reclama da dor aguda, às vezes dilacerante, mas no momento seguinte, agradece. Nada melhor que a maturidade para nos fazer entender.
E o importante é perceber-se assim: constantemente melhor e em busca da felicidade. É importante reconhecer em si e nos outros o que nos faz brilhar os olhos. E ter coragem de encarar isso quando perceber que há mudança pela frente. Não fosse assim, os netinhos da vovó não estariam tão felizes gritando tantos nomes num só parabéns. Foram os nomes que ela escolheu para chamar de amor, de esperança, de sucesso, de tranquilidade, ou de paz. Felicidades, vovó, te vejo no nosso chá.
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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2014.