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10 anos agoon
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Durante o Super Bowl deste domingo, existe uma boa chance de pelo menos um jogador ter a sua cabeça esmagada com força suficiente para ferir seu cérebro. Os jogadores de futebol têm concussões quase tão frequentemente como os salva-vidas ficam bronzeados por ficarem muito tempo expostos ao sol.
Curiosamente, com toda a tecnologia médica de hoje e todo o dinheiro aplicado em pesquisa sobre as lesões do cérebro, não há como ter certeza que um jogador que saiu tonto da partida devido a uma batida de cabeça esteja com concussão. Um dos “testes”, da NFL, por exemplo, pede para o atleta ficar equilibrado com apenas um pé e com as mãos no quadril.
Portanto, se é determinado que o jogador teve uma concussão, não há como saber quando ele estará bem o suficiente para entrar em campo novamente.
Mas isso está prestes a mudar, graças a uma fertilização cruzada de neurociência, matemática e tecnologia. A neurocirurgiã da Universidade de Nova York, Uzma Samadani, parece ter descoberto uma nova forma de acompanhar os movimentos dos olhos e correlacionar esses resultados a lesões cerebrais, como contusões. Ela acabou de fundar uma empresa, a Oculogica, para comercializar a descoberta. E também apresentou quatro patentes e tem dois artigos científicos.
Há excitação que gira em torno da Oculogica é por causa do EyeBoxCNS, que pode ser construído como pequenos dispositivos e com baixo custo, permitindo que cada equipe tenha o aparelho em seu vestiário. Há uma chance de isso virar um aplicativa de smartphone, permitindo que até os treinadores de futebol americano do subúrbio identifique uma concussão a qualquer hora se os jogadores baterem a cabeça.
O co-presidente do comitê de concussão da NFL, olhou para a Oculogica e acha que ainda é preciso ter um otimismo cauteloso, porque ainda se trata mais de um projeto de ciências do que um tecnologia comprovada. No entanto, a partir do que ele viu, ele pensa que a Oculogica possa dar dados objetivos sobre lesões cerebrais, o que ainda não tem no momento.
No ano passado, a NFL fez um acordo de 765 milhões dólares decorrente a uma ação sobre lesões cerebrais apresentadas por membros da família de 4.500 ex-jogadores. A National Hockey League tem os seus próprios problemas com contusões, e um recente relatório disse que as equipes perderam centenas de milhões de dólares pagando aos jogadores que ficaram fora dos campos por causa de lesões cerebrais. Além do esporte, quase 4 milhões de americanos por ano sofrem abalos – de acidentes de carro, quedas e, em certas profissões (como a escrita), batendo a cabeça contra a parede.
Os danos causados pelas batidas são medicamente invisíveis, por isso que ouvimos os jogadores voltando ao campo mesmo com os cérebros alinda lesionados, o que pode causa danos ainda piores. Os abalos não aparecem em exames de ressonância magnética ou de quaisquer outros testes de diagnóstico, explica Sean Grady, chefe do departamento de neurocirurgia da Universidade da Pensilvânia. Qualquer outro teste utilizado de hoje em dia envolve julgamento subjetivo de um médico e deixa em aberto a possibilidade de que o paciente poderia enganar, dando respostas falsas .
“Então trabalhar com acompanhamento visual é muito importante”, diz Grady . “É um teste repetitivo que não é sujeita a interpretação . Você não pode fingir.”
Um grande esforço está indo para colocar sensores em capacetes para medir a força e o número de golpes na cabeça, mas também indicar aqueles golpes que não podem ser uma concussão. Dano potencial não é igual ao dano real. Seria como dizer que alguém teve um ataque cardíaco com base exclusivamente em quantos Big Macs a pessoa comeu.
Como acontece nos em vários avanços da medicina, a Oculogica também aconteceu por acidente. Samadani, como parte de seu trabalho na Universidade de Nova York, queria encontrar uma maneira de medir o nível de danos em pessoas que tiveram lesões cerebrais tão graves que não podiam seguir as instruções normalmente dadas para avaliar uma concussão. Ela e seus colegas decidiram experimentar com TV.
Curiosamente, as pessoas com lesões cerebrais têm dificuldade em assistir televisão. “Nós pensamos, se é que podemos quantificar o quão bem eles podem assistir TV, poderemos chegar a um resultado”, diz Samadani .
Sua equipe criou uma câmera e colocou na frente dos pacientes para controlar os movimentos dos olhos durante 500 vezes por segundo, enquanto eles olhavam à tela.
Ela trabalhou com o departamento de matemática da Universidade de Nova York para escrever algoritmos que poderiam classificar o movimento de cada olho de forma independente e comparar os dois conjuntos de dados.
O objetivo da contagem foi feita no paciente que estava focado na tela da TV. E a surpresa foi: em todos os pacientes, o nível e tipo de lesão cerebral correlacionada com um conjunto de métricas mostrou o quão bem os dois olhos se moviam em sincronia. Quanto mais ferido o cérebro, mais fora de sincronia os micro-movimentos dos olhos. As diferenças entre os movimentos dos dois olhos é também minúscula para qualquer médico observar. Mas a tecnologia pode vê-lo.
Em 10 de fevereiro de 2012, Samadani peneirou os dados de seus testes e teve sua epifania. “Eu quase desmaiei”, diz ela . “Eu não podia acreditar. Eu não consegui dormir por dois meses pensando que talvez estava errada.”
Mas, até agora, após ensaios repetidos e apresentações aos colegas, os dados provam estar certos. Ele ainda precisa passar por uma revisão federal e científica, mas a tecnologia parece conseguir diagnosticar concussões, medir se alguém está melhorando, e mostrar se a lesão está curada o suficiente para retomar a atividade.
Samadani diz que o plano da Oculogica é fazer parceria com empresas para desenvolver um produto comercial. O único financiamento, que a empresa tem até agora veio de NYU. A próxima etapa será a de contratar uma equipe e buscar investimentos. Nesse meio tempo, a tecnologia está sendo testada em hospitais de Nova York e Filadélfia.
Quanto mais ampla esta promissora tecnologia puder alcançar, mais a sociedade será beneficiada. Então vamos esperar que os parceiros da Oculogica seja empresas de tecnologia de movimento rápido, que poderia construir uma versão de baixo custo e fácil de usar. Um iPad poderia funcionar como uma plataforma: mostrar um vídeo na tela enquanto uma câmera de rastreamento ocular ligada ao relógio correlacionado os dados dos movimentos dos olhos.
© 2014, Newsweek.