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9 anos agoon
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Da próxima vez que o seu filho estiver em outro quarto, dê uma olhada nas apostilas de ciências dele. É possível eles afirmarem que a evolução é apenas uma teoria e o aquecimento global é bem discutível. Nos Estados Unidos, por exemplo, professores estão autorizados a ensinar criacionismo – juntamente com a evolução – e discutir os dois lados do aquecimento global.
Em 2013, nove projetos de lei anticiência foram introduzidos em sete estados. Os legisladores em todo o país entraram com cerca de 50 projetos nos últimos 10 anos, declarando que a evolução seja uma ideia “controversa”, cujo lado oposto, o criacionismo, deve ser ensinado no interesse da liberdade acadêmica. Os autores dos projetos de lei dizem que tal modelo ajudará os alunos a desenvolver habilidades do pensamento crítico e a responder de forma adequada e respeitosa as diferenças de opinião sobre questões
Grande parte dessa legislação pode ser desnecessária, pois aproximadamente 25 por cento dos professores de biologia do ensino médio das escolas públicas em todo o país dão aulas sobre o criacionismo, e quase metade desses professores apresenta a teoria como um estudo cientificamente crível, de acordo com um estudo nacional em 2008. Esses números refletem a crença popular: uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, em 2013, descobriu que 33 por cento dos adultos norte-americanos acreditam que os seres humanos sempre existiram na sua forma atual. Dos 60 por cento que acredita que os seres humanos evoluíram ao longo do tempo, 24 por cento das pessoas pensavam que a evolução era “guiada por um ser supremo”.
O ensino da ciência do clima parece ser “comparavelmente terrível”, diz Glenn Branch, vice-diretor do Centro Nacional da Educação Científica. Cerca de 36 por cento dos professores do jardim de infância até o terceiro ano no ensino médio que aborda a mudança climática nas aulas, diz ensinar “ambos os lados” do problema, já que, por lei, é exigido que 5% das instituições ensine as duas teorias, de acordo com uma pesquisa da National Earth Science Teachers Association, em 2011. Apesar de haver 97 por cento de consenso entre os cientistas sobre as mudanças climáticas, os outros 3 por cento – alguns dos quais afirmam que a Terra está ficando mais fria – tende a obter financiamento para investigações importantes sobre empresas de carvão e de petróleo, como a ExxonMobil.
Parece estranho que os educadores sejam tão propensos a ir contra a corrente da comunidade científica sobre a mudança climática, até você ler as apostilas deles. Esse material, usado muitas vezes para determinar a grade curricular da turma, também incorpora a entrada de indústrias que se opõem à ideia da mudança climática. A razão nos leva profundamente ao coração do Texas que é o maior estado do mercado de livros didáticos do país. O restante dos alunos, portanto, geralmente não tem outra escolha, a não ser ler os livros aprovados pelo conselho escolar centralizado no Texas.
Isso significa que alguns texanos estão decidindo o conteúdo programático de toda a rede pública de ensino dos EUA. Quando o Texas Board of Education realiza audiências sobre a adoção de manuais escolares, qualquer um pode se posicionar sobre o processo de aprovação. Em uma audiência recente, Becky Berger, um geólogo de mineração e petróleo, se opôs ao rascunho do livro didático de Ciência Ambiental do ensino médio, publicado pela Houghton Mifflin Harcourt. Berger disse que o livro culpou injustamente a indústria de petróleo e gás pela poluição e, consequentemente, o aquecimento global. Acrescentou ainda que não havia nenhuma menção sobre a desvantagem das fontes renováveis de energia. A editora foi forçada a adaptar a apostila para ganhar a aprovação do conselho: agora o material menciona que a energia eólica, normalmente gerada no campo, não pode ser facilmente transferida para as áreas urbanas.
Há uma série de fatos científicos que ofendem os críticos. “Você precisa ter muito cuidado na hora de dizer que a era do gelo ocorreu há milhões de anos”, diz Dan Quinn, porta-voz da Texas Freedom Network, um grupo de vigilância. “Em muitos livros didáticos, ela foi alterada para um passado distante”. Isso ocorre porque alguns criacionistas acreditam que a Terra tem só seis mil anos de idade.
Quando você estiver folheando os livros de ciências do seu filho, atente para os capítulos e as passagens sobre a evolução e as mudanças climáticas. Você pode achar expressões tais como “muitos cientistas acreditam que”, “a maioria dos cientistas”, ou “alguns cientistas afirmam”. Isso incomoda Quinn, ele insiste que a ciência deve permanecer fora dos limites da opinião. “É como dizer que ‘muitos cientistas aceitam a gravidade’”.
A editora Houghton Mifflin Harcourt se recusou a comentar sobre a influência que as pessoas têm a respeitos do conteúdo dos livros didáticos.
Embora o ensino da evolução possa suportar esses desafios, o aquecimento global é muito mais vulnerável, porque não tem proteções constitucionais.
© 2014, Newsweek.