
Crise política – ajuste fiscal é a saída
A aguardada lista dos políticos envolvidos na operação Lava-Jato veio a público, gerando um crescente aumento da pressão política sobre o governo. O resultado das suspeitas comprometeu dirigentes de grande relevância país afora, fragilizando ainda mais a conjuntura política e econômica, que vinha abalada pela polarização das últimas eleições e pelo necessário ajuste econômico em andamento.
Dos mais profundos veios da base governista, como o nome da ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman (PT), aos maiores nomes da oposição, como o do senador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), constam ainda na lista de Teori Zavasqui e Rodrigo Janot os nomes de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidente da Câmara e do Senado, respectivamente.
Desde a semana que antecedeu a publicação da lista, os mercados passam por forte turbulência. Naquele momento, o dólar chegou a atingir R$ 3,07, beneficiando-se de indicadores positivos da economia doméstica americana, mas absorvendo o risco político que se elevara com o comprometimento do núcleo duro da classe dirigente brasileira nos escândalos de corrupção. Ao se tornarem de conhecimento público, os principais nomes da política brasileira veem promovendo uma rebelião no Congresso, ameaçando o governo de Dilma Rousseff e agravando a crise institucional, que vem puxando a economia brasileira para uma situação ainda pior. Atualmente, o dólar comercial ronda os R$ 3,50; o desemprego aumentou substancialmente em todos os setores à exceção da agricultura; a dívida pública ultrapassou 60% do PIB e a economia brasileira deve encolher em torno de 2% apenas em 2015.
Enquanto isso, diversas alas do PMDB, principal partido da base aliada, movimentam-se para distanciar a legenda da imagem do governo – mal avaliado pela população – sem descolar-se dos cargos que darão fôlego aos candidatos nas eleições municipais de 2016. Esta é uma estratégia-chave para o partido, que pretende se fortalecer para pavimentar uma candidatura ao Planalto em 2018, mas tem como principal desafio a superação de seu gigantismo heterogêneo – que se impõe à frente da construção de consenso em torno de um nome para a corrida presidencial.
Dentre as alternativas que restam aos articuladores do Executivo, a última mais viável parece ter sido jogada pela janela há pouco tempo. Render-se ao PMDB, resultaria em um alívio temporário e sepultaria um mínimo de legitimidade que a presidente ainda tem em seu partido. A estabilização da base aliada, sobretudo após o rompimento declarado – e raivoso – de Cunha com o governo, é hoje mais distante que a próxima disputa presidencial. Ato contínuo, o enfraquecimento da presidente deve dificultar a negociação com as demais legendas, que se afastarão do governo por conta do desgaste diante da opinião pública, e muitas também o farão pelo envolvimento em escândalos de corrupção, em particular o PP, que teve o maior número de envolvidos nas investigações do chamado ‘Petrolão’.
Um caminho para recuperar a governabilidade seria conduzir o ajuste fiscal até o fim, superando a rejeição dentro de seu partido e no Congresso, com vistas à recuperação econômica. Assim, a popularidade do governo se recobraria num prazo mais curto, dando suporte a Dilma para atuar em um cenário político mais fragmentado. Se adotada, esta estratégia exigiria maior sacrifício, como vimos que vinha acontecendo. Mas neste início, a presidente teria o recall de sua ainda recente reeleição – uma gordurinha para queimar, digamos. Era a hora de enfrentar as resistências e retomar as rédeas da economia, abrindo diálogo com a população. Com isso estabilizar-se-iam as animosidades no Congresso. Mas o governo resolveu recuar.
Se o ambiente político não parar de sangrar a economia, em pouco tempo Dilma ficará ainda mais fragilizada para colocar em pauta qualquer tipo de ajuste, correndo então maior risco de não terminar seu mandato na Presidência da República.
_______________________________________________________________________________________________________
Luiz Renato Arietti Nais é publicitário, e bacharel em Relações Internacionais. Amante dos livros e do conhecimento. Dois-correguense, corinthiano, mochileiro e inventor de apelidos. © São Paulo Times.