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9 anos agoon
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Depressão já é a doença do século e pode levar ao suicídio.
Todos os profissionais médicos devem estar atentos, não só o psiquiatra.
A depressão tem sido discutida por vários segmentos da sociedade nos últimos tempos, merecendo a atenção não só de profissionais médicos. Atualmente, atinge 20% da população mundial. Isso significa que uma em cada cinco pessoas já teve ou ainda terá pelo menos um episódio depressivo em sua vida, trazendo prejuízos funcionais nas esferas psicológicas, comportamentais, sociais, familiares e ocupacionais.
“É bastante comum conhecermos alguém que já sofreu – ou ainda sofre – com a doença, que já é considerada a terceira causa de morte em adultos e a segunda em adultos jovens e adolescentes”, alerta o médico psiquiatra Dr Vladimir Bernik, coordenado do Grupo de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cru.
A incidência é mais frequente no sexo feminino que no masculino, em uma proporção de 3 para 2, e atinge pessoas na melhor idade produtiva, entre os 20 e 45 anos. A redução progressiva da imunidade leva a depressão a ser causa de morte.
No entanto, um dos grandes problemas enfrentados pelos portadores da doença é o diagnóstico tardio e, quando não tratada adequadamente, leva à incapacitação e está associada a elevados custos econômicos e sociais. “Por isso, a importância de profissionais médicos de todas as especialidades, não só psiquiatras, estarem atentos aos sintomas da depressão, para que possam encaminhar esses pacientes a um tratamento adequado. A família também pode ajudar na observação de alguns sintomas e ao desconfiar que seu parente possa estar sofrendo de um quadro depressivo procurar ajuda”, disse Dr. Bernik.
Tristeza e depressão – Mas é fundamental estar atento a uma diferença importante: tristeza é um sentimento; depressão é uma doença. Quando triste, a pessoa não deixa de interagir com quem está em volta, reagindo ao ambiente e o sentimento de pesar é passageiro, porque consegue encontrar saída para o que está desencadeando esse momento de tristeza. Ou seja, ainda há um sentimento em si que o desperta para a vida: a esperança.
“Já a pessoa que sofre com a depressão não vê graça em nada, não tem ânimo algum e desenvolve uma sensação de abandono que a leva a se fechar para o mundo, com frequentes episódios de perda da autoestima e concentração, além dos pensamentos pessimistas e de culpa que os acompanha dia a dia. Há também um sentimento que merece total atenção: a pessoa deprimida tem sentimentos mórbidos, sendo que algumas até planejam a própria morte”, reforça o médico psiquiatra.
Conhecendo melhor os sintomas da depressão – Dois sintomas são básicos: o humor depressivo e a perda da alegria de viver. Outros completam o quadro. Entre eles, o ganho ou perda de apetite e, consequentemente, mudança no peso; alteração no sono; fadiga diurna; lentidão psicomotora; e alterações do pensamento e da cognição (compreensão dos fatos). “Como já dito anteriormente, nas mudanças psicológicas incluem a perda da autoestima e da concentração, pensamentos pessimistas e de culpa e a idealização da morte. Esse último, certamente, o mais grave de todos os sentimentos”, diz o médico.
É fundamental ressaltar que vários fatores, como preconceitos e sigilo, impedem a detecção em tempo hábil para a prevenção do suicídio. Outros fatores que contribuem para o desfecho trágico são a falta de conhecimento geral e dos profissionais da saúde e a dificuldade do deprimido com pensamentos mórbidos em procurar ajuda. É importante, também, não subestimar um comentário da pessoa deprimida, mesmo vago, sobre o desejo de morrer. Os suicidas sinalizam antes de morrer e não foram bem entendidos ou foram subestimados. Esses comentários são pedidos de socorro.
Porque algumas pessoas são deprimidas – As causas são multifatoriais e também já é de conhecimento científico que é inquestionavelmente genética. Essa predisposição, associada a fatores socioeconômicos e conflitos pessoais e profissionais, é estopim para o surgimento do quadro depressivo.
Mas atenção, isso não significa que uma pessoa que não tenha histórico familiar de depressão não possa desenvolver a doença. A depressão pode estar associada a outras patologias como diabetes, hipertensão, Parkinson, epilepsia, alterações na tireoide e outras. Além disso, também pode ser provocada por medicamentos, como os betabloqueadores, benzodiazepínicos, corticosteroides, anti-histamínicos, analgésicos, entre outros. Portanto, é importante comunicar ao médico qualquer alteração comportamental, quando em tratamento medicamentoso. O abuso de álcool e drogas ilícitas também é um importante desencadeador da depressão.
E como é o tratamento – A individualização do quadro de cada paciente permite elaborar uma melhor estratégia personalizada terapêutica. E lembre-se: a depressão é uma doença e, como tal, deve seguir um tratamento medicamentoso, junto com sessões de psicoterapia. O remédio corrige uma disfunção orgânica, enquanto a psicoterapia ajuda no autoconhecimento e como enfrentar os problemas do dia a dia e as consequências do quadro depressivo.
O paciente também precisa ter consciência que a depressão é uma doença grave e que não existem saídas válidas além do tratamento adequado. Fé e crença religiosa são reforços ao trabalho e dão alegria de viver e esperança, mas não conduzem sozinhas à recuperação. E as intervenções de fundo místico só retardam a recuperação e frequentemente levam o paciente a abandonar o tratamento médico, o que agrava a doença e aumenta o risco de complicações graves.
Os medicamentos antidepressivos são a base do controle da doença. Os mais conhecidos são a fluoxertina, a sertalina, a desvenlafaxina e a venlafaxina. Independentemente da substância ativa definida pelo profissional médico, os antidepressivos levam de 14 a 21 dias para começarem a agir. Porém, desde o primeiro dia podem apresentar efeitos colaterais e, portanto, é fundamental insistir no medicamento definido com critério e não substituí-lo antes do prazo previsto para o início de seu efeito, pois a constante mudança, antes da espera de seu efeito, pode levar a um problema mais grave: a depressão refratária, que não responde a medicamentos.