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9 anos agoon
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Após meia década de crise econômica, a Espanha finalmente está vendo sinais de recuperação. O Produto Interno Bruto (PIB) – o conjunto das riquezas produzidas pelos país – deve crescer acima de 1 por cento este ano. As exportações são as maiores em anos e os economistas preveem o fim da crise.
Mas, para muitos espanhóis, como o senhor Francisco Fenoll, não há esperança no horizonte. O encanador de 29 anos está desempregado há mais de três anos e não vê a hora de uma recuperação no país.
“Já pensei em mudar de área para ampliar minhas chances, mas o futuro próximo parece sombrio”, diz Alicante, um jovem que estuda desenvolvimento de redes de internet.
Mais de um em cada quatro espanhóis está desempregado, segundo a estatística oficial. Os dados reais são provavelmente mais elevados.
As empresas continuam a falir e isso vale para nomes emblemáticos como a cadeia de vestuário Zara – que fechou 39 lojas em seu país de origem desde 2008 – depois de uma queda de 5,8 por cento nas vendas na Espanha de 2007 a 2012.
Em todo o país, os projetos de construção permanecem abandonados. Para dois projetos museológicos em Santiago de Compostela e Málaga, onde o governo investiu um total de 440 milhões de euros (600 milhões de dólares), não existem planos de retomar a construção e nenhum financiamento em vista.
Atualmente há mais de 14 mil edifícios inacabados na Espanha, incluindo 600 mil unidades de apartamentos, de acordo com o conjunto arquitetônico MBQ.
“O desemprego ainda é o maior problema que o país enfrenta. É a nossa maior barreira para a recuperação econômica atual”, afirma Miguel Cardoso, economista-chefe do BBVA Research, uma unidade do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA.
No auge da crise, o desemprego atingiu 27,2 por cento em 2013. Agora, o índice está em torno de 26 por cento.
As coisas estão piores para os jovens: em 2013, 56 por cento dos espanhóis entre 15 e 30 anos estava sem emprego.
Um dado preocupante é que os empregos de nível médio estão desaparecendo. Muitos cargos administrativos estão sendo automatizados ou integrados em outros empregos.
“Essas tarefas são da responsabilidade dos administradores agora, expandindo o escopo dessas atividades sem ajuste de salário”, comenta Luis Enrique Alonso, professor de sociologia da Universidad Autónoma de Madrid, ao site espanhol El Confidencial.
“As empresas estão reduzindo a equipe de funcionários ao máximo para economizar em despesas. Eu não acho que eles vão mudar essa mentalidade com o crescimento atual”, explica Clemente Polo, professor de análise econômica da Universidade Autónoma de Barcelona.
Esse crescimento, embora seja uma boa notícia para a quinta maior economia da União Europeia, ainda é bastante tímido. A BBVA Research não prevê um crescimento de mais de 2 por cento para 2015.
A Espanha teve que ser socorrida pela União Europeia com um pacote de ajuda equivalente a 55 bilhões de dólares em 2012. Três anos antes, no início da crise global, a economia tinha deixado de funcionar, com uma queda de 4,4 por cento.
“Precisamos de um crescimento de 3 ou 4 por cento para falar de uma recuperação real”, diz o professor Clemente Polo. A mídia muitas vezes fala de esperança, anunciando uma nova recuperação sólida, mas Clemente não está convencido. “Não vamos nos deixar levar pelos números”, diz ele. “Essa previsão ainda pode desaparecer rapidamente.”
Marta Romero entende sobre a falta de esperança. A jovem de 27 anos recém-formada pensa ter feito tudo certo: é bacharel em Jornalismo e Direito pela Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, e viveu em Paris e Londres para aperfeiçoar seu francês e Inglês. Marta sempre acreditou que uma boa preparação e competências linguísticas eram o passaporte para um trabalho.
Depois que ela se formou, porém, tudo o que encontrou foi vagas temporárias em empresas não relacionadas ao seu campo de trabalho. “Aparentemente, você nem precisa investir milhares de euros em um mestrado”, diz ela.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Adecco, uma agência de emprego, 70 por cento dos espanhóis ingressou em alguma vaga de emprego sem relação com seus diplomas universitários. 61 por cento dos recém-formados encontrou seu primeiro emprego em uma área a qual eles não estudaram.
E esses são os sortudos. Até para se tornar um assistente de vendas ou um estagiário, os requisitos são extremamente altos: dois anos ou mais de experiência, possuir veículo próprio e submeter-se a inúmeros processos de avaliação.
Em um caso extremo, uma agência de publicidade, com sede em Madrid, postou uma vaga de emprego para designer em março de 2014 que exigia conhecimento de ferramentas de marketing, fluência em Inglês e Francês – e ter corrido uma maratona. (Essa experiência iria ajudar os candidatos a “serem mais resistentes ao estresse e menos propensos a darem desculpas”, de acordo com o anúncio de emprego.) Salário oferecido? Um cartão para o transporte público da cidade.
Diante da perspectiva de esperar por tempos melhores, muitos espanhóis decidem procurar emprego no exterior. Meio milhão de jovens já deixaram o país entre 2008 e 2013 em busca de melhores oportunidades.
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