
Do contra
Ele viu uma grande comemoração por causa da abertura da ciclofaixa. Mas se recusava a comemorar sabendo que tinha tanta roubalheira na política.
Reparou que o pessoal tava feliz com as investigações da corrupção. Mas não ele. Como se sentiria bem com uma simples investigação de corrupção se mal tinha água nas torneiras?
Até se sentiu bem ao saber que o pessoal estava economizando água. Mas achava que todos eram um bando de otários. Fazendo economia quando a culpa nem era deles, e sim do governo. Ele não tinha culpa. Tinha votado em outro.
As pessoas trocaram a cor das fotos do Facebook pra comemorar o casamento gay. Mas ele não ia comemorar uma coisa dessas enquanto tem tanta violência no mundo. Tem coisa mais importante pra se pensar, não é?
Tem gente passando fome no mundo. Onde esse pessoal estaria com a cabeça? Tem doenças sem cura. Pessoas decapitando jornalistas por aí. Drogas que dominam a nossa juventude. Falta emprego. Falta dinheiro. Inflação subindo. Crise imobiliária. Juros altos. Diminuição da maioridade penal. Dengue. Estado Islâmico.
Ele é que não ia ser feliz, não. Não tinha tempo pra isso. Em um mundo com tanto problemas, não era ele que seria alienado a ponto de ficar alegre.
Ele não.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014