
É possível desenvolver a atenção para tomar decisões? Um estudo científico diz que sim.
A imagem de um monge velhinho, sozinho no topo de uma montanha, pode ser a primeira que surge para muitos quando se fala sobre meditação. Nada poderia ser mais distante do contexto de um estudo conduzido no Brasil sobre a prática: dezenas de estudantes universitários, a poucos meses de seus exames finais de curso.
No segundo artigo da série sobre o 4o Seminário Internacional de Medicina Tradicional e Práticas Contemplativas promovido pela UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo e a Associação Palas Athena, que contou com especialistas de vários países e linhas de pesquisa; unindo cientistas, biólogos, médicos, reikianos e diversos especialistas ligados à espiritualidade, vou destacar uma das mais interessantes descobertas científicas recentes sobre a meditação e seus efeitos sobre a capacidade de atenção. É simples entender que alguém que medita há muitos anos tenha facilidade de foco e atenção. Mas uma das descobertas da Dra. Carolina Menezes, conduzindo na UFRS, é que o poder da meditação sobre o bem estar e a capacidade de atenção funciona mesmo para os iniciantes, se eles praticarem com a freqüência necessária.
“o estudo avaliou a relação da prática, em meses, assim como a freqüência semanal da prática. E verificamos que o tempo de prática foi determinante para os resultados, mas que a freqüência semanal também influenciava. Avaliando só a freqüência semanal, quanto maior o numero de vezes que as pessoas meditavam, maior o nível de bem estar que elas apresentavam. Mais interessante ainda foi a interação: dividimos esses praticantes entre iniciantes, intermediários e avançados e descobrimos que para as pessoas que praticavam de 6 a 7 vezes na semana, os resultados e o bem estar que para os praticantes avançados eram mais altos, na verdade já estavam estabilizados desde o nível iniciante. A diferença representada pelo tempo de prática deixou de existir a partir do momento em que as pessoas praticavam de 6 a 7 vezes por semana, mesmo a partir de poucos meses de prática. Então, se o longo prazo é muito importante, a regularidade com que se faz isso é muito importante também: se tiver uma disciplina, principalmente no início; vai ter ganhos que reforçam a prática. Verificamos ganhos em 2 meses de prática e percebemos que esses efeitos eliminam as distinções entre iniciantes e avançados se a regularidade era diária.
Duração da prática
“a duração da meditação não teve relação com esses resultados: se a pessoa fazia dez minutos, vinte minutos ou meia hora, não foi determinante. O que foi mais determinante foi a freqüência do dia a dia. É importante que as pessoas saibam que com uma prática freqüente diária, mesmo de pouco tempo, já pode ter ganhos bem significativos. Só exige um pouco de disciplina, o que é, também, um benefício da meditação. “
Atenção e controle emocional
Se estes resultados são interessantes, mais ainda são outros achados do estudo. Todos conhecemos bem aquele momento em que, atarefados, com pouco tempo para tomar uma decisão, acabamos errando. A pressão contínua e o tempo curto criam uma sensação de urgência e ansiedade que muitas vezes faz que a atitude seja tomada por um “impulso”, algo como uma “ação automática”, impensada. E as decisões tomadas sob esse estado de “piloto automático” costuma causar arrependimentos. A metodologia do estudo reproduziu esse tipo de pressão; os participantes tinham de responder questões num tempo determinado, e para isso deviam usar a atenção, e ao mesmo tempo, o controle emocional para não serem afetadas por imagens que eram exibidas junto da escolha a ser feita. O resultado final do estudo, demonstrou que o nível de atenção dos meditadores era melhor (pelo maior nível geral de acertos), mas também que o controle emocional era maior, que eles eram menos suscetíveis às “respostas automáticas” e tinham maior facilidade em concentrar-se, porque o seu nível geral de ansiedade foi reduzido pela prática.
Levando em conta os resultados do estudo, parece que não são apenas os universitários em épocas de provas que deveriam meditar diariamente. Certamente todos os profissionais urbanos, estressados e submetidos à pressão de tomar decisões rapidamente têm poucos aliados mais eficazes e seguros que alguns minutos de meditação, todos os dias.
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Paulo Ferreira é escritor, coach e consultor em desenvolvimento organizacional do bem estar humano; conselheiro e representante do Nikola Tesla Institute em SP. © 2014.