
Ê São Paulo
Essa cidade é uma contradição por si só. Começando pelo nome de santo, apesar de muita gente achar que viver aqui é um inferno.
Falta água, falta energia, falta emprego, falta segurança. Mas o que tira o paulistano do sério é ciclovia. Dá pra viver sem banho. Mas perder alguns centímetros do espaço do meu carro, jamais.
A violência está nas ruas, nos caixas eletrônicos, nos condomínios. Mas o que faz as pessoas se terem medo de verdade é o beijo lésbico da novela.
Que não foi pior do que os daquela outra minissérie, mas lá ficou ofuscado pela bunda da atriz que dava o beijo.
A faculdade mais importante do país, onde, teoricamente, está a elite estudantil do Brasil, as festas são marcadas por estupros e impunidade. Que bom que nosso futuro está nessas mãos….
A polícia é uma das mais violentas do mundo, matou quase duas pessoas por dia esse ano, mas são tratados como heróis, merecendo até selfie na passeata. Afinal, quando a violência é só contra os outros, não há problema.
As drogas incomodam, mas só quando os drogados estão no nosso bairro. Se eles ficarem na cracolândia, tudo bem. E a solução pro problema das drogas é pedir pra polícia aí de aumentar suas estatísticas de mortes. Tratamento, confiança e cuidado não precisa ser desperdiçado com essa gente.
Aqui tem festa pra cachorro. E padaria pra cachorro. E moda pra cachorro. E gente que faz tudo que pode pra salvar cachorrinhos de rua. Mas que trocam de calçada quando vêem uma criança que mora na rua. É justo. Se for assaltado, como vai ter dinheiro pra salvar os bichinhos?
Deve ser por isso que cada vez mais gente quer morar por aqui. Essa bagunça toda é interessante, apesar de um pouco triste. E a gente se diverte com o que tem. Ou melhor, reclama de tudo isso.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014