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“EDUARDO E MÔNICA – MUITOS ANOS DEPOIS”

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CarlosCastelo

“EDUARDO E MÔNICA – MUITOS ANOS DEPOIS”

Quem um dia irá dizer que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer

Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar

Ficou deitado e viu que horas eram

Enquanto Mônica olhava o botox

Lá no seu apartamento

Como eles disseram…

Eduardo e Mônica um dia se enjoaram sem querer

E conversaram muito mesmo pra tentar se convencer

Foi o amigo advogado do Eduardo que disse:

– Tem um artigo legal e a gente pode lançar mão

Coisa estranha, que lei mais esquisita

– Se não for legal, só assino com birita

O amigo então riu e quis saber um pouco mais

Sobre o divórcio que tentava efetivar

E o Eduardo, meio tonto, só pensava em sair fora

– Dá essa porra, vamo homologar!

Eduardo e Mônica foram parar no Fórum

Na frente do juiz, decidiram se largar

O Eduardo sugeriu uma pensão

Mas a Mônica ouviu e começou a gargalhar

Se encontraram então no parque da cidade

A Mônica de moto e o Eduardo num carrão

O Eduardo achou estranho e melhor não comentar

Mas a patroa tinha um berro na mão

Eduardo e Mônica eram nada parecidos

Ela era de Leão e ele tinha trinta e seis

Ela com consultório próprio e falando alemão

E ele ainda sem saber falar inglês

Ela gostava do Leminski e os cambaus

De Van Gogh e dos Strokes

Chico César e Sinhô

E o Eduardo gostava de puteiro

Do Bahamas, Love Story e até Café Photo

Ela fazia análise transacional

Também pilates e musculação

E o Eduardo ainda estava

No esquema “trabalho, boteco, casa e o futebolzão”

Por isso, com tudo diferente,

Veio mesmo, de repente,

Uma vontade de morrer

Os dois mal se viam todo o dia

E o perrengue crescia

Era difícil crer

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia

Teatro e artesanato depois de se amarrar

A Mônica explicou pro Eduardo

Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer

E decidiu trabalhar

E ela se formou no mesmo mês

Em que ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntos

E também brigaram juntos, muitas vezes depois

E hoje o povo diz que ele corneia ela e vice-versa

Lá isso é vida a dois?

Reformaram uma casa uns dois anos atrás

Mais ou menos quando os gêmeos piraram

Detonaram grana e quebraram legal

Com uma barra dessas nunca contaram

Eduardo e Mônica mudaram de Brasília

Rolou desquite forte tá fazendo um tempão

De novo nas férias não vão viajar

Porque o filhinho do Eduardo

Tá no crack, meu irmão

E quem um dia irá dizer que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer

Que não existe razão?

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.

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