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Empresas de tecnologia: onde o produto dá lugar à missão

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É difícil imaginar como funcionários do LinkedIn enfrentam cada dia o peso incrível da missão da empresa: “Criar oportunidades econômicas para todos os membros da força de trabalho global”.

Cada um dos membros! É como se comprometer a acabar com a fome, reverter o aquecimento global ou erradicar as notícias sobre o Justin Bieber. Muito admirável, mas que grande promessa!

Isso é o que as empresas de tecnologia fazem. Começam a construir algo e logo sua missão é resolver todos os problemas.

Boas empresas sempre assumiram grandes desafios, mas em épocas passadas, o salto do micro ao macro levava pelo menos o tempo entre duas gerações. Agora a tecnologia se move tão rápido, que a transição pode acontecer em uma pausa para o almoço.

Há pouco tempo, eu conheci Aaron Levie, CEO da empresa Box. Em 2005, ele e seu amigo de faculdade, Dylan Smith, começaram o negócio no quarto onde dormiam para ajudar as pessoas a armazenar e acessar o material digital a partir de qualquer lugar – basicamente, um armário online. Agora a Box é uma empresa de “gerenciamento de conteúdo” adequada à forma como as pessoas colaboram e trabalham hoje. A Box vende seus serviços principalmente para grandes corporações.

Tony Fadell começou a Nest – uma empresa de automação de casas – porque estava reformando sua casa e pensou que poderia fazer um termostato melhor. No momento em que o Google fechou o negócio este mês para comprar a empresa por 3,2 bilhões de dólares, Fadell dizia que sua missão era a de criar “uma casa consciente”.

A maioria das pessoas que eu encontrei começou pela construção de um produto ou serviço focado em um problema definível. Os fundadores do YouTube queriam uma maneira melhor de compartilhar vídeos. Reed Hastings começou a Netflix, pois teve que pagar uma multa de atraso de 40 dólares por não devoler o filme Apollo 13 para a locadora, e pensou que haveria outro jeito de alugar filmes.

Mas os bons empreendedores acordam um dia, como Chesky fez, e percebem que a sua premissa original pegou fogo, pois tocou em algo profundo. Os que constroem grandes empresas entendem o mercado como uma interação social que pode se tornar melhor que antes. Seu foco passa de produto (como desenvolver tecnologia que faz isso ou aquilo) para a missão.

A LinkedIn leva sua nova missão muito a sério. Quando Reid Hoffman começou a empresa, viu uma maneira de ajudar os profissionais a encontrar uns aos outros. Na época, a empresa foi o negócio do Facebook. Para crescer e se estabelecer, o site desenvolveu um ambiente mais profissional, cheio de anúncios de emprego, conteúdo e recomendações.

Agora a rede tem 277 milhões de membros, o que significa que possui uma grande quantidade de dados sobre a profissão dos usuários e suas aspirações em torno do mercado de trabalho.

“Agora podemos realmente criar oportunidades econômicas”, diz Deep Nishar, o executivo que comanda os produtos da LinkedIn. A empresa pode notar, por exemplo, uma indústria que necessite de certas habilidades e direcionar as pessoas de lá que têm o perfil para a área. A rede pode ajudar a tirar as pessoas de regiões de alto índice de desemprego para as regiões onde podem encontrar trabalho. Para a LinkedIn e seu ecossistema, isso parece significativo. Como Nishar diz: “Queremos construir uma empresa que resiste ao teste do tempo”.

Não demorou muito para que a missão do Google ficasse ultrapassada. Larry Page e Sergey Brin soaram tão ousados no início da década de 2000, quando disseram que a missão do Google seria “organizar a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil”. Mas isso foi antes das redes sociais explodirem.

Na década de 1980, no alvorecer dos computadores pessoais, Bill Gates declarou corajosamente que a missão da empresa era “colocar um computador em cada mesa e em cada casa”.

A Microsoft foi tão bem sucedida em sua missão que possuir um computador agora é tão emocionante como possuir uma máquina de lavar louça. Todas as tecnologias legais – e funcionais – se mudaram para os gadgets e aplicativos móveis. A Microsoft precisa se redefinir, mas ainda não o fez. Por isso deriva sem missão semelhante a um navio com uma bússola quebrada.

É um equilíbrio delicado. Toda boa missão tem que parecer um pouco maluca e ainda estar dentro do reino da possibilidade.

© 2014, Newsweek.

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