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ENTREVISTA: SÃO PEDRO

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CarlosCastelo

ENTREVISTA: SÃO PEDRO

Pedro, que é como prefere ser chamado, concedeu esta entrevista exclusiva nas férias que passou no Rio de Janeiro. Durante a passagem de uma escola e outra no Sambódromo, o zelador do céu respondeu a nossas perguntas.

Por que sua imagem sempre esteve mais ligada à chuva do que à religiosidade?

Foi meio que Jesus que começou com isso. Um dia ele me disse … “e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”

Por causa disso comecei como o zelador celeste.  Eu andava com um chaveirão no bolso do manto, era bem bom. Só que aí fizeram uma reforma aqui na abóbada. Instalaram portas com biometria, modernizaram tudo. Como fiquei sem função me passaram para o setor de Meteorologia.

Como Vossa  Santidade controla as chuvas?

Desde que assumi, e já lá se vão quase dois mil anos, que venho pedindo uma central de meteorologia. Mas nunca me dão. As verbas do Banco do Vaticano estão concentradas em outros setores e atividades, como o combate aos evangélicos, aos ateus e ao pagamento de despesas advocatícias dos padres pedófilos. Por causa disso sou obrigado a usar métodos empíricos para fazer as chuvas chegarem aos lugares.

Poderia explicar melhor o seu método empírico? 

É simples. Eu fecho os olhos e aponto o dedo para um ponto qualquer no chão. Depois cuspo lá embaixo.

Antes, Vossa Santidade cuspia muito no Sul-Sudeste do Brasil e não cuspia quase nada no Norte-Nordeste. Esta situação inverteu-se com estados como Acre vivendo inundações históricas e São Paulo uma estiagem sem precedentes. 

No caso brasileiro não foi uma questão de cuspida, nem de escarrada. Foram ordens superiores recebidas no sentido de alterar radicalmente a política hídrica da região.

Ordens de Deus?

Acima Dele.

Houve alguma mudança na hierarquia do céu?

Sim, houve de fato uma alteração significativa no organograma. Deus passou a CFO e agora o Todo-Poderoso do nosso Conselho de Administração é o Facebook. Tudo ocorreu na mesma transação em que Zuckerberg comprou o Whatsapp.

Por que uma mudança desta natureza não foi comunicada à mídia? 

Não revelamos nada oficialmente porque o pai do Neymar intermediou tudo. E pediu que só falássemos à imprensa depois da Copa. Uma notícia dessas abalaria o evento, os lucros da FIFA e a porcentagem do seu Neymar.

Voltando às alterações climáticas, objetivamente por que vem chovendo tão pouco em São Paulo?

Com a mudança de administração aqui recebemos uma ordem de ir gradualmente passando as águas da América Latina para a América do Norte. As lideranças do Hemisfério Norte estão muito preocupadas com a escassez dos mananciais deles. Como não dá para invadir a Amazônia sem uma grita da comunidade internacional, eles optaram por comprar as ações do Firmamento, via Facebook, e fazer a coisa de modo mais oblíquo.

Então não há nenhuma razão política? Por exemplo: punir o governo de São Paulo?

Não, em absoluto. O governador daquele estado já se pune por si mesmo. E Deus é de uma corrente religiosa que abomina o uso da autoflagelação, cilício, essas coisas da Opus Dei.

E o Acre?

Ah, bem lembrado! Vamos interromper a entrevista por um minuto que eu preciso dar uma cuspida em cima dele.

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.

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