esses meninos…
esses meninos…
O menino veio correndo, passando por entre as mesas do salão. Os braços pro alto, a voz aguda, os olhos esbugalhados. Desviava dos garçons e atraía os olhares dos clientes das outras mesas. Chegou até onde estava a mãe com o medo escorrendo dos olhos. Sem cerimônia, o que é a maior virtude das crianças, gritou: mãe, tem um bicho na mesa!!!
A mãe ficou envergonhada. Um bicho? Logo ali? Não era restaurante de ter bichos nas mesas, muito menos no jantar de Ano novo. Mas o menino insistia. Tem sim, eu vi, eu vi.
Seria uma barata? Um rato? Talvez uma mariposa ou uma dessas lagartinhas que fugiram das folhagens da decoração. Mas resposta era sempre negativa.
Onde estava, então, o bicho? Ele prometeu que levava a mãe até lá, mas só se ela fosse na frente. E lá foram ele, a mãe e uma comissão da família averiguar a situação, tentando não chamar a atenção, o que já era impossível naquele momento.
O menino apontou categórico, assim que se aproximaram do buffet: alí, tá vendo?
Não. Ninguém via.
Alí!!!!!
Procuraram atrás das saladas, embaixo do balcão, sobre os copos. O medo do menino dava a certeza de que o bicho de fato existia, mas ninguém via.
Até que o menino se encheu de coragem e correu até o balcão, já impaciente com todos aqueles cegos que prometeram ajudá-lo: aqui, está aqui!!!!!!
E apontou para um lindo leitão sobre uma bandeja. Daqueles com direito a maçã na boca e cerejinhas nos olhos. O restaurante todo começou a rir, embora o riso que mais tenha doído no menino tenha sido o da própria mãe. Ela tentou explicar que aquilo era um bicho, sim, mas nada que ele nunca tivesse comido. O menino não se convenceu. Duvidava que uma linguiça viesse daquele troço. Bistecas menos ainda.
Naquela noite, não comeu o leitão. Nem comeu outras coisas. Se atentou aos doces, que ele sabia bem a origem.
Ah,esses meninos da cidade…..
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014
