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Etiqueta na passeata

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CarlosCastelo

Etiqueta na passeata

“O governo vai encaminhar nos próximos dias ao Congresso Nacional um projeto para regulamentar manifestações populares. Segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o objetivo da medida é garantir a segurança dos manifestantes e dos jornalistas que cobrem os protestos e impedir atos “inaceitáveis” de vandalismo.”

(EBC – Agência Brasil)

Excelentíssimo senhor Ministro da Justiça:

Na qualidade de redator do Projeto de regulamentação das manifestações populares envio-lhe alguns esboços iniciais de como podemos tratar a matéria no Congresso Nacional. Peço-lhe que faça comentários, altere ou mesmo retire os ítens que lhe aprouver.

Coloco-me à sua inteira disposição para qualquer outra eventualidade.

DA REGULAMENTAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES POPULARES NO BRASIL

  • Todo brasileiro tem o direito de se manifestar em espaços públicos, desde que a manifestação não seja contra o Governo federal, estadual ou municipal ou não favorável a temas de interesse nacional, como a Copa do Mundo, Olimpíadas e aumento de passagens de ônibus.
  • Marchas coletivas de mais de 20 pessoas poderão ser repelidas com o uso de cassetetes. As de mais de 50 pessoas com cassetetes e balas de borracha. As de mais de 1000 pessoas com cassetetes, balas de borracha, bombas de efeito moral e carros de som tocando a banda Psirico em volume estridente. Nos protestos acima de cinco mil pessoas, a doutora Havanir poderá ser chamada ao local para discursar.
  • A venda de refrigerantes, coxinhas, pastéis, acarajé (quente e frio), rissole, cocada e quebra-queixo seria permitida durante as marchas. Bebidas alcoólicas, exceto coquetéis molotov, também poderiam ser comercializadas.
  • Haveria um limite sonoro nas revoltas populares. Fiscais da Polícia Federal monitorariam a intensidade dos gritos e xingamentos dos insurgentes. Em se passando dos 140 decibéis, independente do horário, o revoltoso seria multado e ganharia 100 pontos em sua carteirinha de filiado ao PCC.
  • Para o melhor andamento dos protestos propôs-se um cadastramento online dos participantes-vândalos. Todos deveriam entrar no site do Ministério da Justiça, inserir seus dados pessoais e aguardar o recebimento de um link de validação do seu pedido de destruição do sistema vigente. Uma vez validada a solicitação, o vândalo receberia em seu domicílio um manual de etiqueta na passeata. Também teria direito a um vale-desconto para a aquisição de socos-ingleses e rojões.
  • Outro tema discutido foi o do protocolo para a participação de black blocs nas manifestações. Além de não poderem mais irem mascarados, houveram as seguintes proposições sobre a conduta que deveriam adotar:
  • Antes de começar uma passeata, os black blocs deveriam fazer uma oração de mãos dadas.
  • Se eventualmente destruírem um caixa eletrônico teriam que recolher os pedaços e colocar em recipientes de lixo, separando os dejetos plásticos, os de papel e os de metal.
  • Se resolverem incinerar um veículo deveriam fazê-lo segundo normas do Inmetro. E não esquecer de, após o rescaldo, colocar as cinzas em sacos de aniagem.
  • Os black blocs não poderão sair da manifestação sem antes cumprimentar os policiais que surraram. E vice-versa. Se alguém não estiver em condições de receber um abraço ou um aperto de mão, deve deixar no bolso da farda ou amarrado numa fita no taco de beisebol uma mensagem escrita desejando melhoras.
  • Não acontecerão manifestações em fins de semana, feriados e em suas respectivas emendas.

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.

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