
Eu torço pelo Brasil
Ontem comprei uma bandana decorada com bandeirinhas do Brasil para usar na copa. Conversando com uma amiga e com a vendedora, disse que provavelmente só usarei no período dos jogos. Entre os modelos, tinha uma com a bandeira da Grã-Bretanha, que ela comentou que vende bastante, bem mais que a do Brasil.
Aí me dei conta de que, apesar de amar o nosso país, já tem um tempo que não encontro tantos motivos para me orgulhar dele. Gostaria de tê-los mais. E entre eles, o despertar, tão raro, de seu povo, como tivemos nas passeatas em junho do ano passado. Para minha (talvez nossa) decepção, somos líderes em algumas estatísticas: temos a maior taxa real de juros mundial. Nossa taxa de analfabetismo funcional voltou a crescer, o que não acontecia desde 1998. São mais de 13,2 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever. Não temos mais repetência nas escolas públicas, e isso não é motivo de orgulho – por lei, não por competência e esforço de alunos e professores.
Estamos vivendo em país onde o salário mínimo é de R$ 724,00. Com a bolsa-auxílio reclusão, que chegava a R$ 915,00 para parentes de 1º grau de bandidos presos, o governo gastou R$ 365 milhões em 2011. Estamos em um país em que faltam menos de 10 dias para receber a Copa do Mundo e, apesar de superfaturados, os estádios tem arquibancadas provisórias que não foram completamente testadas pouco mais de uma semana antes do jogo oficial no Itaquerão.
O Brasil é o país do oportunismo. Passagens aéreas e diárias em hotéis tiveram seus preços hiperinflacionados por conta dos jogos e isso é visto como normal. Parte importante de políticos e mensaleiros, então, melhor nem entrar no mérito. Só de que, apesar de ser motivo de vergonha nacional, são um extrato escolhido e votado, sabe-se lá por que motivos, por uma população comprada e carente: de educação, dinheiro, informação. Carente de civilidade, de cidadania, de moralidade.
Não julgo impunes os políticos, mas também não ponho a mão no fogo por grande parte da população que foi às ruas lutar por um Brasil melhor. Será que se tivessem a mesma oportunidade de roubos, de atos ilícitos, de ganhar uma “propininha só”, uma graninha extra, de almoçar caviar e ficar hospedados nos melhores quartos de hotéis de luxo às custas dos tributos pagos pela maior parte dos mais de 180 milhões de habitantes, fariam diferente?
O que dói no futuro da nação é que de todo o prometido legado cidadão que a Copa poderia deixar para seu país-sede, como transporte público, com o trem-bala interligando Rio- São Paulo, por exemplo, a melhoria real de vários aeroportos, a educação e profissionalização de trabalhadores em massa, investimento em saúde e segurança; nada foi feito.
Por isso, na Copa vou colocar minha bandana e erguer minha bandeira. Torço por um país melhor: composto por cidadãos mais bem intencionados. Não nos resolve sermos classificados como uma das populações mais “felizes” e acolhedoras do planeta, se nossos alicerces foram construídos em solo risonho e tropical, mas corrupto e sem-vergonha. Torço por um Brasil de caras pintadas na Copa, de verde e amarelo, mas em rostos, um pouco que sejam, corados de vergonha e indignação. Somos bons, mas poderíamos ser melhores. Bem melhores.
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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2013.