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Fazer o quê?

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CarlosCastelo

Fazer o quê?

O gênero crônica anda mais desprestigiado que dvd de videolocadora de bairro.

Fazer o quê?

Lembrar-se, por exemplo, que a crônica já foi embalada por nomões da nossa Literatura, como Machado de Assis, José de Alencar, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Luis Fernando Verissimo, Leon Eliachar, só para citar meus favoritos.

Mesmo assim, se você não for o Paulo Coelho, tente oferecer seus originais a um editor. Venho tentando isso há um tempão e as negativas são o padrão. Parece crônico.

Fazer o quê?

Lembrar que Pelé fez mil gols, mas botou pra fora, mandou na trave, pisou na bola milhões e milhões de vezes.

E não se abalar com as tábuas. Que podem ser desde que a política editorial da empresa não contempla a edição dessa modalidade literária, que os relatos dos blogs tomaram o lugar da crônica ou simplesmente que não se interessaram pelo seu material – de longe, a opção a mais usada, vinda num papel A4, com o timbre da editora num envelope de papel pardo, pelos Correios.

Fazer o quê?

Teimar. Minha birra começou quando percebi que levava jeito para cronista, no início dos anos 1980, na faculdade de Jornalismo.

Depois de muito insistir no erro acabei ganhando colunas no Caderno 2 do O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Caros Amigos, O Pasquim, Bundas, VIP, Sexy, Destak, Playboy. Atualmente mantenho espaços na revista Propaganda e aqui no The São Paulo Times.

Só não pensem que tem sido tranquilo. Vivo incomodando escritores, pedindo-lhes que me indiquem a editores, me escrevam prefácios ou simplesmente me aconselhem.

Fazer o quê?

Ter a sorte de contar com a solidariedade de um Fernando Sabino, meu colega de Estadão, em 1986.

Num encontro com o grande mineiro, ele me desafiou, na dedicatória de seu livro “Os Melhores Contos de Fernando Sabino, a “acreditar na força de uma vocação e fazer os maiores sacrifícios para alcançá-la.”

E que sacrifícios, Fernando…

Fazer o quê?

Ganhar ainda mais testosterona para encher os picuás de outros autores.

Alguns meses depois, lá estava eu pentelhando o Luis Fernando Verissimo para que pensasse numa apresentação para o meu, afinal, primeiro livro de crônicas, “O caseiro do presidente e outras notícias de uma chácara em estado de sítio” (Nova Alexandria, 2001).

Verissimo aceitou e afirmou no prefácio que eu sabia escolher como ninguém as letras certas no teclado e era uma raridade no panorama da crônica brasileira.

Fazer o quê?

Insistir mais um pouco e preparar uma nova seleção das crônicas que venho produzindo desde o lançamento do “O Caseiro do Presidente” e começar tudo de novo.

Sei que continuarei ouvindo, como ouço, desde sempre, ao entregar meus originais: “como assim, um livro de crônicas?”

Fazer o quê?

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.

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