
Escolha
Certa vez me disseram: Você escreve o que os outros querem ler. Aquilo, em princípio, me incomodou. Soou como se eu não tivesse opinião ou se só quisesse ver o mundo cor de rosa. Talvez tenha escutado com um tom diferente do que foi dito, mas me fez refletir sobre o meu propósito, não só na escrita, mas na vida.
Acredito que uma coisa é alienação, a outra é posição, a maneira de se relacionar com a vida e seus fatos. E isso é determinação – a forma como eu escolhi me relacionar com o mundo, sabendo como ele é.
Se eu sei que ele é cruel, injusto e por vezes porco, não tenha dúvida. Vejo isso diariamente na rua, no trânsito, em notícias na internet, nos jornais e na TV. Eu sei de tudo o que acontece: guerras, corrupção, bandidagem, falta de vergonha na cara. Lavagem de dinheiro, gente mal educada, sequestros e assassinatos. Mais do que assistir, já tive que digerir, muito perto de mim, dentro da minha vida mesmo, o resultado de alguns destes episódios da novela interminável da qual só se lamentam alguns em frente à TV.
Até onde me lembro, eu sempre escolhi o riso ao choro – embora o último tenha sido inevitável em alguns momentos, como para todos nós. Dou mais valor à alegria. Nasci na primavera e valorizo as flores no jardim, e não a árvore seca do outono, embora saiba da importância de uma estação para se chegar na outra.
Sou sensível, emotiva, choro em filme (hoje menos do que antes, mas ainda o faço). Já chorei lendo livros, confesso, mas não foi o choro do mal. Foi o choro que mostra o bem do mundo e o bem em mim, quando ambos se reconhecem. É o choro da construção. É o choro em que um ser humano consegue conversar com outro através de sua arte.
E quanto às alegrias, pode ser que as viva realmente no superlativo e por isso tente escrever sobre coisas boas, que eu queira ler e que os outros leiam também. Não quero parecer puritana e nem hipócrita, mas levo a ferro e a fogo a máxima de que procuro fazer para os outros o que gostaria que fizessem para mim – realmente me esforço ao máximo para isso. Então, por que seria diferente com os meus textos? Qual seria o motivo de escrever sobre desgraças, colocar as pessoas para baixo, cutucar tanto corações e mentes que eu não poderei ajudar depois a fazer o curativo nas feridas abertas?
Melhor escrever sobre o que acredito, mesmo que seja utópico. Melhor dar para o mundo o que eu penso, compartilhar o que tenho de melhor em mim. Porque, claro, sentimentos e vivências ruins ou não tão boas, eu também tenho. Mas não vejo sentido em usar um espaço, o seu tempo e o meu sem agregar, sem construir.
Enquanto uma parte do mundo se corrompe, se vende e se mata por vaidade, dinheiro, luxúria e egoísmo, eu prefiro partilhar risos, carinhos, momentos. Aqueles que as pessoas queiram e gostem de ouvir. Eu escolho ser a parte boa do seu dia.
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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2013.