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Liberdade, esta palavra que o sonho humano alimenta

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Liberdade, esta palavra que o sonho humano alimenta

Os norte-americanos tem um ditado: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. A autoria da frase é atribuída a um dos pais da pátria estadounidense, Thomas Jefferson, e pode ser usada com duplo sentido: seja a vigilância aos “inimigos da liberdade”, a ameaça externa, quanto como justificativa pelo preço a pagar pelo american way of life, o inimigo interno.

A constatação vem de dentro de casa. Em “Tiros em Columbine”, o cineasta norte-americano Michel Moore disseca a alma paranóica do americano e do que há por trás da cultura de compras de armas no país. Dos índios do oeste aos negros de Fergunson, todos podem ser culpados. Todos ameaçam ao cidadão branco de religião protestante, o WASP.  O mesmo Michel Moore nos revela em “Farenheith 11 /09” que os congressistas dos Estados Unidos aprovaram sem ler o ato patriótico de George W. Bush, que permite ao governo passar por cima da constituição e prender preventivamente os seus próprios cidadãos.

O suprassumo da ironia é que aqueles que defendem a liberdade, neste mundo de paranóia e monitoramento, são obrigados a abdicarem da própria liberdade para denunciarem os excessos da vigilância.

O jornalista e programador australiano Julian Assange é fundador do Wikileaks, um portal que permite a denúncia de documentos sigilosos preservando o anonimato da fonte. Foi através deste sistema, após confirmar a veracidade das informações, que centenas de crimes de guerra cometidos pelo exército dos Estados Unidos no Afeganistão e Iraque vieram a tona. Após o episódio, Assange foi acusado de abuso sexual na Suécia, por transar sem camisinha, e teve seu pedido de extradição da Inglaterra para o país nórdico. Há dois anos, está confinado na embaixada equatoriana em Londres, vivendo num pequeno quarto, sem poder se mudar para o país que lhe concedeu asilo político. Seu medo é que possa ser deportado para os Estados Unidos, onde pode ser condenado à prisão pérpetua pelo vazamento dos documentos. O chanceler equatoriano afirmou que o país lhe concedeu asilo temendo que o jornalista pudesse ser assassinado em uma prisão norte-americana.

Os documentos publicizados por Assange foram fornecidos por Chelsea Manning, nascido como Bradley Manning, militar transexual norte-americano, condenado em um julgamento secreto à 35 anos de prisão pelo vazamento dos crimes de guerra. Segundo o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, as condições de detenção de Manning são desumanas e ilegais.

Assim como Manning, Edward Snowden era um analista do governo norte-americano, tendo trabalhado na CIA e na NSA (Agência Nacional de Segurança). Foi responsável pela denúncia do Sistema de Vigilância Global da NSA aos jornais The Washington Post e The Guardian, onde revela o monitoramento de correios eletrônicos e redes sociais dos próprios cidadãos americanos por seu governo. Seu passaporte foi cancelado quando se encontrava na Rússia, o que o impede de ser recebido por outros países.

A poetisa brasileira Cecília Meirelles, em seu Romanceiro da Inconfidência, preferiu definir a liberdade de forma distinta. Ela escreveu: “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Neste sentido, Assange, Manning e Snowden estão mais próximos da definição brasileira. Em nome deste sonho humano, sacrificaram sua liberdade individual em nome da liberdade coletiva, em sentido contrário extremamente oposto do que os americanos compreendem liberdades individuais e coletivas.

Foram eles que nos permitiram entender que a verdadeira guerra pela liberdade não é a travada no Afeganistão ou no Iraque, pelo contrário, mas diariamente em nossos computadores, inclusive no seu, onde você está lendo este artigo agora.

E daí, deste lugar mesmo, você pode apoiar o sonho humano pela liberdade, assinando as petições para que o Brasil receba Snowden (http://www.avaaz.org/po/send_snowden_home_loc/), pela liberdade de Manning (https://secure.avaaz.org/en/petition/Save_human_rights_whistleblower_Bradley_Manning/?cCTAqdb) e pela não-extradição de Assange para os Estados Unidos (http://www.avaaz.org/en/wikileaks/).

 

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Miguel Stédile é zagueiro, gremista, historiador e dublê de jornalista. © 2014.

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