Mentira dela

Mentira dela

Ali, no meio da rua, ela mentiu.

Disse que não mais o amava, que tinha outro e que partiriam anda naquela noite para uma viagem secreta. Pediu desculpas pela situação, assumiu sua culpa no cartório e sugeriu que ele entendesse a confusão porque, enfim, doeria menos.

Refletiu que o amor já não era mais aquele, que suas músicas e livros favoritos não eram mais compatíveis e que os ventos, você sabe, mudam muito rápido. Ao final, mal deixou ele falar: segurou seus lábios com o dedo indicador e menos de dois minutos depois já havia sumido em meio a multidão.

Ele ficou parado, congelado, quase atropelado por um entregador que subiu a rampa do seu prédio com mais uma entrega urgente. Naquele momento, no entanto, nada parecia ter mais urgência que aquele estranho vazio em seu peito.

Sacou o celular e ligou para ela cheio de floreios. Prometeu melhorar, jurou que podia ser melhor, implorou para que ela cancelasse aquela viagem pelamordedeus e jantasse com ele naquele restaurante especial. Só voltou a sorrir quando, do outro lado da linha, ela finalmente consentiu.

Porque ali, no meio da rua, ela havia mentido.
Era completamente maluca por ele. Só queria mais carinho.

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Henrique Rojas – mas pode chamar só de “Rôrras” – é redator, palmeirense, paulistano e um observador nato de pessoas. ©2014.