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Meus sinceros parabéns

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CassioZanata

Meus sinceros parabéns

Eis que uma das notícias do ano é essa imensa quebra de tabu: pela primeira vez na história, uma mulher é indicada presidente mundial da General Motors, a famosa GM, a maior montadora americana e por muitos anos, a maior montadora de carros do mundo.

Estava lá, para quem quisesse ver: capa do Financial Times, New York Times, The Times e de nossos jornais mais importantes. Não sei se nosso The São Paulo Times dedicou atenção ao caso, já que trata de assuntos mais urgentes, como publicar a crônica do Carlos Castelo, a do Zé Luis Martins e até a minha. Mas voltemos à notícia. Foco, seu Cássio.

Mary Barra, 52 anos, 33 anos de experiência no setor, ascende de vice-presidente de desenvolvimento global de produtos a Presidência da empresa. Hoje, uma das mulheres mais poderosas do mundo. Muito bom. Muito bem. Bacana, hein, Mary? Mas permita-me chamar a atenção para um fato que mereceu apenas algumas linhas de um parágrafo perdido no meio da notícia e que, talvez por isso, pode ter passado injustamente despercebido.

Mary Barra substituirá Don Akerson, 66, que deixará a empresa para se dedicar aos cuidados da mulher, que recentemente descobriu um câncer em estágio avançado. Eu não conheço nem Mary Barra nem Don Akerson. Muito pouco provável que eles tampouco me conheçam. Don, por exemplo, pode até ter sido um crápula em algum momento da carreira – dominado pela ambição, talvez tenha prejudicado algum companheiro para alçar seu posto. Ou não: é um bom sujeito, ajuda a alimentar crianças na África ou se fantasia de Papai Noel para entreter a galerinha no Natal, sei lá.

O que sei é que a mulher de Don, essa sim, conquistou algo precioso, invejável. No meu entendimento cada vez menor do mundo de hoje, que tanto celebra o sucesso, ela é a mais bem sucedida nessa história toda.
Porque seu homem deixou a presidência da General Motors para ficar ao seu lado. Não para desfrutar da sua aposentadoria sorvendo champagne rosé ou degustando linguinhas de faisão nos Alpes franceses; não para sair das páginas de The Economist para entrar nas de Caras. Mas para lhe fazer companhia em um quarto de hospital. Para cuidar dela em um momento difícil, sem glamour algum, às vezes francamente lamentável, com certeza triste.

A você, mulher do Don Akerson (de quem a notícia nem o nome diz), meus sinceros parabéns. Você chegou lá.

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Cássio Zanatta é natural de São José do Rio Pardo, o que explica muita coisa. Escreve crônicas há um bom tempo – convenhamos, já estava na hora de aprender. © 2014.

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