
Muito mais que chucrute
Nunca havia visto, em tão pouco tempo, a transformação do ódio em amor coletivo. Perdemos de 7×1 da Alemanha e, em menos de uma semana, estávamos nós – pelo menos a maioria – torcendo pelos alemães, agradecendo-os pelos ensinamentos, pela dedicação e pelo legado que deixaram na região da Bahia onde ficaram hospedados se preparando para conquistar a taça.
Mais do que torcer por eles, reconhecemos a sua capacidade e merecimento pela vitória. Ainda mais que isso, gritamos juntos não só por tudo isso, mas pela tão alimentada rivalidade com “los Hermanos”.
É constante a periodicidade com que se vê fotos de brasileiros que passam férias e feriados em Buenos Aires. Nem tantos na Alemanha. Todo mundo aqui arrisca um portunhol, mas contamos nos dedos aqueles que conhecemos que dão bom dia, boa tarde e boa noite em alemão. Comemos por aqui muito mais carne, tradição argentina, do que chucrutes. Não lidamos tão bem com o frio. Concordamos, em massa, que alemão falando parece que está dando bronca…No entanto, foi assim mesmo que os recebemos na final da Copa: como se eles, os “professores” tivessem nos passando o sermão. E nós, com o acréscimo de alguma birra argentina, tivéssemos entendido o recado e deixado o recalque para trás.
Mas até onde levaremos a lição adiante? Você se lembra das datas decoradas para a prova de Literatura Portuguesa? Provavelmente uma ou outra, ou nenhuma, mas, dificilmente, de todas. Mas se eu te perguntar quanto é 2+2 ou 3×8 você me responderá imediatamente. A diferença? A prática! Você pratica a matemática no seu dia-a-dia.
Então quero propor aqui uma aula de alemão! Que não seja a da língua propriamente dita, mas do legado deixado por eles. Que os nossos elogios pelas ações vistas se transformem em atitudes, como eles fizeram com os índios pataxós, com a cidade que recebeu ambulância, que melhoraram escolas, hospitais, construíram estradas. Eles usufruíram de parte disso por apenas seis meses, mas se interessaram pela comunidade e deixaram uma parte do alicerce onde construir o seu futuro. Eles empregaram a comunidade local para isso; os ensinaram a pescar o próprio peixe e ter orgulho do resultado.
Quem aqui se habilita a por a mão na massa? A fazer a diferença? A ir a uma creche ler para crianças e incentivá-las a estudar? A dar palestras sobre carreira? A exercer de alguma forma o voluntariado? A ajudar um cego a atravessar a rua? A escutar as histórias de velhinhos em asilos? A ajudar, seja com dinheiro ou trabalho a cozinhar, construir e limpar o chão de espaços públicos para pessoas carentes? Mais do que isso, a dar as mãos para estas pessoas e construir com elas um futuro melhor?
Eu espero, sinceramente, que o Brasil não se repita. Não apenas no 7×1, mas também na falta de memória e engajamento. Que tome como exemplo alemão e não deixe para trás os posts de felicitações e orgulho germânico, mas que olhe para frente e leve consigo a lição e o aprendizado de como é possível fazer a diferença em tão pouco tempo.
É preciso ter garra, determinação, fé. É preciso parecer ser frio e calculista na hora de agir, para fazer acontecer, mas ter vontade e coração para realizar. Mais do que isso: é necessário ter perseverança e colocar as mãos à obra para erguer a taça que esperamos há tanto tempo para o nosso Brasil. É possível mudar este país. Os alemães me fizeram acreditar. E é nisso que eu quero crer. Vai Brasil!
__________________________________________________________________________________________________________
Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2013.