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No ponto

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no ponto.

Ela entrou pela porta da frente e, mesmo em meio àquele mundaréu de gente, chamou a atenção. Ele esticou o pescoço de lado e, ainda que estivesse apertado, sentiu pisar fundo o seu coração.

Conforme o ônibus comia a pista (e o cobrador batia repetidamente a moeda para avisar a partida do motorista), ela chegou inteira até a catraca. Ele desviou de mochilas e bolsas, enquanto corria na contramão de quem descia na Rebouças.

Quando ela finalmente passou pelo cobrador, ele quem deu um jeito de chegar mais perto. E no balanço das curvas e dos buracos, os dois falaram da falta da chuva enquanto se chacoalhavam.

Mesmo quando um garoto entrou com uma caixa gigante de paçocas pedindo licença e atenção, eles não se incomodaram e, enquanto se entreolhavam, consentiram sabedores de que o garoto poderia estar matando ou roubando, mas, que bom!, não era ladrão.

Mas foi quase um tormento quando ele se ausentou por um rápido momento, voltando logo em seguida para lhe entregar em mãos um daqueles doces. Ela abriu tão largo sorriso que, embora estivesse indo para o serviço, era como se viajar fosse.

Estava tudo tão envolvente que ele, de forma surpreendente, nem notou que já havia passado seu destino. E ela, que estava adorando a paquera, desejou pela primeira vez na vida que tudo parasse em um daqueles nós genuínos.

Mas quando o trânsito andou e ela teve que saltar sem um só segundo de desconto, ele a observou e, colocando a cabeça para a janela gritou: “para, motorista, para que meu amor ficou no ponto”.

 

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Henrique Rojas – mas pode chamar só de “Rôrras” – é redator, palmeirense, paulistano e um observador nato de pessoas. ©2014.

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