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O futebol e as corporações

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Por Camila Linberger.

A reação nas redes sociais à derrota do Galo confirma o comportamento já enraizado do brasileiro em invejar tanto o salto dos outros, mesmo que estejam degraus abaixo de distância, muito aquém da vitória. É mais fácil rir do tombo alheio do que chegar perto de onde ele chegou. Dá menos trabalho.

O time do Atlético Mineiro está em Marrocos ainda. Foi lá que se desclassificou por três gols e não conseguiu conquistar o título mundial. Os torcedores do time e outros poucos brasileiros estão tristes por isso. Mas tem uma cambada rindo da cara deles, fazendo piada nas redes sociais. E não é por causa do Galo, que fez uma ótima campanha para chegar lá. É porque não é o time deles. As pessoas invejam tanto o salto dos outros que riem quando estes tropeçam, mesmo que estejam degraus acima de distância de você, que está muito aquém da vitória.

Este é só um exemplo. Poderia ser qualquer outro time e se fosse em outro país, até outro esporte. O que ponho em questão aqui é a tal da (infelizmente) relação entre inveja e incompetência na sociedade. Quantas vezes você já não percebeu em sua empresa alguém mais dedicado, que corre pra lá e pra cá para fazer o seu melhor, que se destaca, que veste a camisa, que sua, que corre diariamente atrás do gol. Às vezes o marca, outras não. Tantas vezes este cara é você. E tantas outras é o fulano que senta na baia ao lado.

Como no time de futebol, muitos fatores influenciam esta chegada ao topo: a relação com o técnico (líder), os incentivos que a empresa te dá, as possibilidades de crescer. E aí você acorda cedo sem pensar; “Mais um dia…”, mas entusiasmado para ir trabalhar, desenvolver um projeto, vencer. O ano passa e você se destaca. E, claro, sempre em busca de uma nova oportunidade, de uma colocação ou reconhecimento bacana.

Enquanto isso, o cara da baia ao lado faz o seu trabalho normalmente, sem entusiasmo, sem uma “boa campanha”. Veste a camisa do time daquele jeito, tem outras prioridades.  Esta é uma opção dele, que não tem problema algum em ser se está bom para ele e para a companhia.

No fim do ano, o cara que se esforçou, suou a camisa e concorreu àquela vaga, perdeu para outros três, que vieram de outros departamentos, com outras lideranças e condições de assumir este lugar. Já não bastasse a sua frustração, percebe no vizinho de baia, que não conseguiu se quer chegar a concorrer pela posição, um ar de satisfação pelo seu fracasso.

Opa, fracasso? Sim, se comparado aos outros três, mas, em relação aos que estão julgando, que até podem ter conseguido a tal promoção no passado, não. Ele concorreu, ele esteve entre os quatro melhores do ano. E o outro, que pode ter assumido a vaga no ano anterior, não foi competente para concorrer a ela este ano.

Por que o ser humano tem este “defeito de fabricação”? Ou seria um desvio de caráter? Por que é tão difícil comemorar e torcer pela vitória alheia? Por que é tão mais fácil criticar a posição que o outro não alcançou, mesmo quando você não foi competente, se quer, para concorrer a ela?

Pois, é. É mais fácil se satisfazer ao olhar para a derrota do outro do que buscar a sua própria vitória. Dá bem menos trabalho e mais prazer. É menos frustrante ver a tristeza do outro do que se arriscar a, talvez, ser o dono do mundo, mas talvez, ter que voltar para casa sem a taça.

Galo, lembre este ano ao povo brasileiro que vocês fizeram a melhor campanha do futebol brasileiro. Que tiveram partidas lindas. Que colocaram muitos times, que hoje riem de você, no chinelo. Que é triste sim voltar sem a taça, não sejamos hipócritas, mas que, se outros times brasileiros já foram campeões mundiais em outros anos, foi por um esforço e campanha semelhantes ao seu em 2013.

Quem sabe, um dia, o cara da baia ao lado consiga, se não competir com você, torcer pela sua vitória, ou ao menos, se inspirar no seu caminho. Talvez este seja um desejo um tanto utópico, mas quem sabe um dia!

 © 2013, The São Paulo Times.

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