O mundo está de tal forma interconectado, que qualquer movimento de ordem política, econômica ou social repercute em quase todos os países, de maneira positiva ou negativa, conforme o aspecto dos eventos. As estruturas dos mais diversos Estados estão interligadas pela economia e pelo compartilhamento de ideias políticas, que a qualquer momento podem adentrar às fronteiras – virtuais – de qualquer espaço físico. Tudo isso faz com que as análises conjunturais se tornem mais complexas, mais sensíveis e menos precisas. Os acontecimentos têm impactos mais profundos e repentinos. A recuperação dos Estados é sempre longa e dolorosa, e as crises parecem ter ciclos mais frequentes.
A multiplicação das relações entre Estados remete à evolução do sistema internacional, que sofre uma expansão das áreas de interação entre os países. As relações de poder, que antes demandavam quase integralmente as agendas de política externa para o tema da segurança, desde a década de 1960 dividem espaço com assuntos de caráter econômico e de cooperação tecnológica, como também discutem os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável. Sendo assim, a interdependência do sistema internacional ocorre pelo aprofundamento e o alargamento da pauta de interação entre os Estados. Há uma grande rede de conexões que regula as relações entre os entes da comunidade internacional, e isso nos torna mais fortes, pois ampliam-se os vínculos de segurança, mas também deixam-nos mais frágeis, visto que qualquer ação de aspecto econômico ou militar pode conduzir a humanidade ao caos político.
Esse fatos, no entanto, requerem transformações do modelo estatal. A interdependência, segundo Joseph Nye e Keohane, teóricos de relações internacionais, exige que o agente tenha sua autonomia restrita, configurando uma situação de concessão de soberania e desigualdade de poder. Por isso, convulsões políticas e sociais – como aconteceu com a questão da Rússia e a Crimeia e, nos últimos anos, a insurgência da Primavera Árabe – em qualquer parte do planeta preocupam os mercados. A instabilidade pode ser observada na desvalorização ou valorização do câmbio e também é sentida na balança comercial dos Estados. O preço do petróleo também configura uma variável essencial de compreensão da instabilidade atual, vide o caso dos movimentos populares que aconteceram recentemente na Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Como consequência, o cotidiano político-econômico parece ficar mais vulnerável, aprofundando a dependência interestatal, e aumentando a necessidade de cooperação e abertura dos países no sentido da criação de mais mecanismos de governança global. Daí, surge um paradoxo. Frente a (in)decisão pela concessão de soberania e a desconfiança de uns para com os outros e também em relação à instabilidade do sistema, os Estados se fecham para a cooperação, criando um ciclo vicioso de pouco progresso das relações internacionais.
Por Luiz Renato Nais