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O que falta para quem parece ter tudo?

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Paulo

O que falta para quem parece ter tudo?

A morte do ator Robin Williams, anunciada na última segunda-feira, pegou de surpresa a maior parte do público. Segundo sua relações públicas, Mara Buxbaum, ele “vinha lutando com uma depressão severa nos últimos tempos”. O relatório da unidade de resgate que fez o atendimento declara que apenas constatou a morte do ator; aparentemente por asfixia. A soma dessas declarações deixa praticamente implícito tratar-se de suicídio. Escrevo esta coluna na noite de segunda-feira, e pode haver alguma informação nova até a publicação na quarta; mas isso parece pouco provável.

O astro de 63 anos foi indicado ao Oscar quatro vezes, e ganhou uma. Também ganhou dois Emmys, quatro Golden Globes, duas vezes o Actor’s Guild, e cinco prêmios Grammy. Nasceu numa família abastada (seu pai foi da diretoria da Ford, seu avô materno foi Senador e Governador do Mississipi), e chegou a ter sua fortuna avaliada em cerca de 130 milhões de dólares. Famosíssimo; reconhecido em qualquer lugar do mundo.

Fazia o trabalho que amava e, o que parece ainda mais inadequado para o público neste momento; ficou famoso principalmente por seus tipos cômicos, embora tivesse atuações igualmente brilhantes em filmes sérios e sensíveis como “Gênio Indomável” e “Sociedade dos Poetas Mortos” (que aliás, trata dolorosamente do tema do suicídio). Robin Williams nos fez rir muito, e muitas vezes. Era a própria imagem do homem sensível, engraçado e inteligente.

Foto: Wikimedia

Foto: Wikimedia

O homem chamado Robin McLaurian Williams teve muitos anos de problemas sérios com o alcoolismo e a cocaína. Internou-se voluntariamente, mais de uma vez; e falou sobre seus problemas e vícios, inclusive em público. Divorciou-se duas vezes, e em setembro passado explicou assim à revista “Parade” as razões pelas quais voltaria a fazer séries depois de 30 anos longe da televisão:
“- A ideia de ter um emprego certo tem apelo. Eu tenho duas outras escolhas: sair em turnê fazendo comédia stand-up ou fazer filmes pequenos e independentes trabalhando praticamente pelo valor mínimo do sindicato. Os filmes são bons, mas muitas vezes eles não tem sequer distribuição. Há contas a pagar. Reduzi muito os gastos na minha vida; estou vendendo o rancho no Napa Valley, eu simplesmente não posso mais mantê-lo”.

O que existiria de “Novo Mundo”, nesta história, afinal? Ela nos mostra, com uma clareza ofuscante; o quanto as pessoas que encontramos na vida enfrentam desafios sobre os quais nada sabemos. Nos lembra que o essencial é invisível aos olhos. Que sucesso, dinheiro e fama podem ser aspectos exteriores, passageiros; e muitas vezes dissociados; do que chamamos felicidade.

No caso das pessoas mais expostas, às vezes sabemos um pouco mais. Mas o quanto essa é uma realidade semelhante à de tantos outros que todas as manhãs vestem suas “personas públicas” e saem para o mundo?

Quando é que efetivamente podemos saber que aquele senhor, aparentemente tão bem sucedido; premiado, rico; talvez não se sinta tão bem como imaginamos?

Talvez todo o sucesso, o carro, o escritório, as roupas e os luxos; componham a cuidadosa preparação para um papel. O papel a ser desempenhado; o papel que dele se espera. Talvez, o conjunto que compõe tão bem aquele “personagem de sucesso”, tantas vezes invejado, seja bastante distante da realidade interior, da verdadeira dor daquele ser humano.

Robin usou muitas máscaras em sua genial carreira. É interessante o que ele disse certa vez sobre elas:

“- Uma vez que você começa a usar estas máscaras, especialmente a máscara de comediante…. junto com efeitos e maquiagem e todas as coisas, você realmente começa a se afastar de si mesmo; a ganhar uma distância… isso é realmente fascinante para mim.”

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Paulo Ferreira é Diretor de Comunicação da ONG internacional New Earth Nation; Conselheiro e Representante do Nikola Tesla Institute em SP e autor do livro O Mensageiro – O Despertar para um Novo Mundo. © 2014.

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