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O que você precisa saber em caso de uma pandemia global

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Dezenas de tratores derrubam árvores nas florestas nos arredores de Chiang Mai, Tailândia, limpando o terreno para um novo conjunto habitacional. A construção destrói o habitat natural dos morcegos. Um dos morcegos infectados com algum tipo de vírus animal cai em um caroço de maçã mastigada em uma fazenda nas proximidades.

Um porco come a sobra de maçã e, em seguida, mistura-se com as dezenas de outros animais da fazenda. Eventualmente, a família mata um porco para o jantar, sem saber que o animal carrega o vírus morcego.

A filha entra em contato com o sangue do porco enquanto ajuda a mãe a preparar o jantar. A família leva o porco assado para uma festa em alguma outra casa. Neste ponto, o vírus não está somente na carne, mas se espalhou para a jovem.

E agora também está no ar e, durante o jantar, se espalha para o resto dos convidados, pois todos compartilham a mesma carne doente e o ar. Um deles viaja para Nova Iorque, onde mora e trabalha. E assim viaja pelo metrô com milhares de companheiros nova-iorquinos.

Dentro de semanas, uma pandemia global se aproxima. E milhões de vidas e dólares estarão em risco.

Os cientistas não sabem as origens exatas de pandemias, como o vírus H1N1 da gripe suína em 2009, que matou cerca de 284.500 pessoas em todo o mundo, mas muitos dizem que o cenário acima é uma boa aproximação.

Jennifer Olsen, o gerente do Fundo de Ameaças Skoll Global, uma organização sem fins lucrativos – cujos funcionários atuaram como consultores científicos para o filme Contágio -, diz que um desastre como esse descrito no filme é viável. “A questão não é se haverá uma pandemia global. É uma questão de saber quando.”

Os cientistas não sabem quando isso vai acontecer, mas têm uma ideia de onde ela pode surgir. O sudeste da Ásia, com seu clima tropical úmido, espaços densamente povoados, com alta movimentação turística e, principalmente por ser uma área com muitas fazendas, é um foco de doenças infecciosas e provável de desenvolver uma pandemia global.

É por isso que o Fundo Skoll está coordenando um estudo digital de doenças em Chiang Mai – uma iniciativa de vigilância – focado na detecção precoce de pandemias, o que os especialistas em saúde pública dizem que será fundamental para deter futuros surtos.

Velocidade é a chave. Há duas décadas, era necessário um mês para detectar um vírus da gripe aviária ou suína. Por volta de 2009, com o advento de sistemas de novas tecnologias e de vigilância de comunicações, as autoridades de saúde pública foram capazes de cortar esse tempo para cerca de duas semanas. Um grupo de trabalho, em Chiang Mai, liderado pelo fundo Skoll, diz que seu modelo de detecção precoce pode reduzir o tempo de detecção para apenas alguns dias.

O grupo prevê um momento em que, uma vez por semana, as pessoas de todo o mundo abram um aplicativo em seus celulares o qual informará sobre a sua saúde, a de sua família e a dos animais domésticos. A equipe é ambiciosa, mas, por enquanto, o projeto está focado em uma região relativamente pequena, onde todos os atores locais já estão a bordo.

O projeto vai precisar de fundos significativos para pagar o tempo da equipe criar a ferramenta, comprar espaço no servidor na nuvem para trabalhar e o financiamento de programas de extensão para as comunidades e agências apropriadas. A Skoll pretende financiar a maior parte do projeto, mas diz que os detalhes financeiros dependerão da última análise da proposta, além do plano de ação e o pedido de financiamento que irão receber ainda este ano. O grupo também irá procurar um parceiro de financiamento local.

De acordo com Nathalie Sajda, gerente de projetos da OpenDream, um parceiro de tecnologia para a iniciativa em Chiang Mai, o projeto é o primeiro do mundo a implantar o sistema de vigilância de saúde digital, por meio de relatórios gerados pelo cidadãos. A ideia não é exigir mão de obra e recursos de centenas de voluntários, gastando gasolina e batendo nas portas a fim de coletar informações apenas uma ou duas vezes por ano. Dessa forma não haveria dados consistentes e bem organizados.

Os impedimentos para relatórios precisos incluem preocupações com a privacidade, o medo da repercussão, e uma falta de urgência ou entendimento em torno de doenças infecciosas. “As pessoas não podem inicialmente ficar tão ansiosas para compartilhar esses dados sensíveis”, diz Nathalie Sajda. “Muitas perguntas surgirão: o valor da assistência médica vai aumentar? será que o governo tomará minhas vacas?”

A iniciativa está considerando incentivos para a participação, como um “passe rápido” para o hospital local quando estiver sobrecarregado. “Nosso objetivo é criar confiança”, declara Natahalie. “E uma consciência pública muito profunda: se você quer uma boa saúde pública, que diz respeito a todos nós, você precisa compartilhar dados.”

Quanto à privacidade, a iniciativa iria limitar a identificação de dados pessoais que recolhe, como nomes e endereços. “Nós não estamos tentando mostrar um indivíduo em caso de uma epidemia ou pandemia”, explica Nathalie.

O grupo de Chiang Mai ainda não respondeu às perguntas sobre quem terá acesso aos dados, por quanto tempo serão mantidos e como serão usados. Também não foram totalmente desenvolvidas soluções de tecnologia para a elaboração de relatórios e análise de dados.

A equipe de Chiang Mai acredita que a abordagem do futuro vai aproveitar um espaço o qual as pessoas já estão ambientadas: seus smartphones. “Quando há tantas pessoas que desperdiçam horas olhando para uma pequena tela, como podemos capturar uma fração desse tempo para apoiar a saúde pública?”

A resposta pode acabar com as pandemias globais.

(C) 2014, Newsweek.

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