
O Tidal não vai salvar a música
Marqueteiro de primeira, o rapper Jay-Z comprou um serviço de música por streaming chamado Tidal. O Re-lançamento do serviço foi cheio de pompa, com vídeos e declarações de artistas do porte de Madonna a Daft Punk, com direito a um tuitaço, onde os artistas que aderiram ao serviço alteraram seus perfis no Twitter para um quadradinho azul. A grande promessa do Tidal é oferecer música com alta qualidade, sem perda durante a compactação do áudio. Porém, Jay-Z e amigos também vendem a ideia de que no Tidal, ao contrário dos concorrentes, você paga ao artista.
Recapitulando, a polêmica engrenou quando a cantora Taylor Swfit retirou toda a sua discografia do serviço Spotify, argumentando que o valor pago aos artistas era insignificante. O Spotify se defende afirmando que 70% do seu orçamento vai para o pagamento dos músicos. O Tidal quer surfar nesta onda dando a entender que além da qualidade, você pode escutar a música do seu artista favorito com a consciência tranquila de que ele será pago.
Só que não é bem assim. Todos tem razão, Taylor Swift e o Spotify, menos o Tidal.
De fato, a reclamação de Swifit é verdadeira, o artista fica com muito pouco de quase tudo o que produz, seja na venda de CDs, produtos franqueados e shows. O Spotify também tem razão quando diz que paga bastante pelos direitos autorais. Só que quem recebe este valor não são diretamente os músicos, mas as gravadoras, afinal elas são as detentoras dos direitos. E o Tidal promete algo que não pode entregar, pois vai continuar pagando às empresas e não aos músicos diretamente. Neste quesito, qual a diferença entre o Spotify, Deezer e o Tidal? Nenhuma.
O fato é que as gravadoras descobriram uma forma de sobrevivência no novo mundo digital, jogando por terra de novo as expectativas de quem achava que elas desapareceriam. Em pleno século 21, os contratos e as discussões de direitos autorais ainda tem o mofo do século 19. Poucos artistas conseguem ter poder de barganha ou correr riscos suficientes para bancar outras formas de contratos, como os creative commons, por exemplo. E no fim das contas, muda a embalagem, mas o produto continua sendo fabricado do mesmo jeito.
Se o seu artista favorito tem contrato com estas grandes gravadoras, tanto faz qual o sistema de streaming você use. A diferença é quem você quer que seja o intermediário para as pequenas porcentagens que ele irá receber, se uma empresa ou o Jay-Z. Se você acha justo apoiá-lo financeiramente, melhor comprar o álbum em mp3 ou em CD (se alguém ainda faz isso). Se os independentes fazem parte da sua lista de reprodução, certamente eles estão buscando formas como a captação de recursos pela internet para viabilizarem novos álbuns. Por hora, não será o Tidal que vai mudar a forma como consumimos música, pelo menos, não financeiramente.
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Miguel Stédile é zagueiro, gremista, historiador e dublê de jornalista. © 2014.