O pastor Johannes Block pode se considerar o sucessor de Martinho Lutero. Ele é o vigário da própria igreja de Lutero (St. Marien zu Wittenberg). A igreja é a Basílica de São Pedro do protestantismo.
Nela, Lutero pregou seus sermões incendiários contra a corrupção do Vaticano, que levou a Reforma e a ascensão do movimento protestante. É onde os primeiros pastores protestantes foram ordenados.
Mas em um domingo típico, Block vê entre 50 e 100 pessoas nos bancos: um pequeno número em uma cidade de 135 mil habitantes. Na verdade, em nenhum lugar na Alemanha a participação dos protestantes é mais baixa do que na terra natal de Lutero.
De acordo com Detlef Pollack, professor de sociologia religiosa na Universidade de Münster, 4 por cento dos alemães do leste protestantes frequenta regularmente a igreja atualmente, em comparação com 10 a 15 por cento em 1950.
No estado vizinho chamado Turíngia, a outra parte principal do “país de Lutero”, o número é de 23,6 por cento. Em um estado ocidental como Rheinland-Pfalz, por outro lado, 30,5 por cento da população é protestante, enquanto 44,5 por cento é católica.
“As pessoas achavam que a igreja iria crescer após o fim do comunismo, mas não aconteceu”, disse Block. 4.600 pessoas residentes da Turíngia e Saxônia- Anhalt cancelam sua filiação com a igreja a cada ano, enquanto 13 mil morrem. As mil pessoas que se tornam membros a cada ano não podem compensar.
[blocktext align=”right”]”Na República Democrática Alemã era difícil os pastores serem aceitos na sociedade”, disse Diethard Kamm, um pastor veterano que atua como bispo assistente encarregado da área.[/blocktext]
“Pertencer à igreja significava tomar uma posição para dizer: ‘Isto é o que eu acredito e eu assumo as consequências. Hoje as pessoas pensam: ‘eu sou senhor da minha própria vida, por que eu preciso da igreja? ’Mas em tempos de crise, por exemplo, quando a guerra do Iraque começou, as nossas igrejas se encheram de novo”, completa o pastor Diethard.
Como uma adolescente no final de 1980, Jana Fenn participou de um grupo de jovens cristãos em Jena, na Alemanha Oriental, pois “você poderia dizer coisas lá que não podia na escola, e você aprende coisas lá que não aprende na escola”.
Mas um dia, Fenn disse, seu professor queria conversar: “Ele perguntou: ‘O que você faz as sextas à noite?’ Eu disse que ia para o grupo de jovens cristãos. Então ele perguntou quem mais ia comigo e o que fazíamos”.
Mas hoje Fenn já não pertence mais a igreja. “Eu vou aos cultos de vez em quando, mas a igreja não tem um papel importante na minha vida”, diz Fenn. “Hoje já não significa mais nada pra mim. Eu poderia muito bem me juntar ao Greenpeace”.
Pollack acrescenta que “diferentemente dos protestantes, os católicos criticam sua igreja mais vocalmente, embora também sintam uma ligação muito forte. A igreja protestante é vista mais como uma instituição que constrói creches e oferece serviços sociais”.
Quem poderia criticar tais valores benignos? Esse é exatamente o problema dos luteranos. “As pessoas não sabem exatamente o que a igreja representa. Estão tendo dificuldade em se diferenciar de outras organizações da sociedade civil, a partir de sindicatos ou partidos políticos, diz Pollack.”
Como aumentar uma igreja que está cada vez menor, é outra questão. Ilse Junkermann, a bispa encarregada da Turíngia e Saxônia- Anhalt, vê grande potencial na música da igreja: “Metade dos membros em nossos coros não é membro da igreja” Ilse observa. “A música de Bach, por exemplo, é como um curso na fé cristã. Estar em um coro dá-lhe um pertencimento à comunidade”.
Enquanto o Papa Francis está desfrutando de popularidade global, pastores como Diethard Kamm continuam o seu trabalho pesado. Apesar das dificuldades, Kamm diz que ainda ama seu trabalho.
Se ele conheceu o Pai da Reforma hoje, o pastor comenta que diria que não concorda com algumas das coisas que Lutero escreveu, sua opinião sobre os judeus. Mas o agradeceria pela Reforma.
© 2014, Newsweek