Connect with us

Os benefícios da compaixão no ambiente de trabalho

Published

on

No mês de fevereiro, Dalai Lama foi ao Vale do Silício para falar de negócios. Como a maioria de suas aparições públicas, o evento foi assediado. Quatro mil pessoas lotaram o Centro de Leavey, na arena de basquete da Universidade de Santa Clara. Muitos gritos com a frase “Nós te amamos, Dalai Lama!” foram ouvidos e inúmeras pessoas assistiram a uma transmissão ao vivo on-line. O tema da discussão? Como ser um chefe melhor.

O tédio e o desespero existencial que são o resultado de passar longas horas em um cubículo, almoçando na mesa de trabalho e contando os dias até as suas próximas férias não são condizentes com a bondade. A questão é: como mudar isso?

O pensamento tradicional de negócios concentra-se em extrair o máximo de trabalhadores e maximizar os lucros no processo. Mas a pressão que sentimos por um bom desempenho e resultados aumenta a pressão arterial, além dos níveis de estresse.

Dalai Lama, naturalmente, é um grande defensor do princípio budista da compaixão; tonglen é a palavra tibetana para a prática de conectar-se com o sofrimento dos outros. De acordo com Dalai Lama, a nossa felicidade individual está intimamente ligada à felicidade dos que nos rodeiam. Mas só recentemente os cientistas começaram a quantificar o impacto da compaixão no trabalho, o lugar onde a maioria de nós passa a maior parte de nossas horas.

A epidemia de estresse no trabalho, a ansiedade e a depressão custam às empresas norte-americanas cerca de 200 bilhões de dólares frente aos 300 bilhões de dólares por ano perdidos em produtividade, rotatividade de funcionários e contas médicas.

Há seis anos, Dalai Lama ajudou a criar e financiar o Centro de Pesquisa e Educação de Compaixão e Altruísmo (CCARE), um instituto da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, que define a sua missão como “um estudo rigoroso científico mental e de bases sociais de compaixão e de comportamento altruísta”. A contribuição de Dalai Lama – no valor de 150 mil dólares – foi a maior doação feita a uma causa que não pertence ao Tibete.

Hoje, os cientistas estão explorando as ligações entre a compaixão e a produtividade no local de trabalho. Nossos corpos respondem às interações sociais positivas no trabalho: reduz a pressão arterial e a frequência cardíaca, o  sistema imunológico é reforçado e regula os níveis hormonais.

Os custos com os cuidados de saúde são significativamente mais elevados para os trabalhadores estressados. Um estudo mostrou que os gastos com remédios eram 46 por cento menor para os trabalhadores com baixos níveis de estresse. Mais da metade dos trabalhadores entrevistados pela American Psychological Association informou que eles consideravam recusar uma promoção ou sair do emprego atual por causa do estresse crônico. Ajudar um colega de trabalho sobrecarregado, por exemplo, ou perdoar erros, estimula os centros de recompensa do cérebro.

Quando nos posicionamos para auxiliar os outros, cria-se uma boa energia no ambiente: um dos efeitos fisiológicos de altruísmo pode ser sentido nas mesmas áreas do cérebro quando ganhamos dinheiro, comemos ou fazemos sexo.

E quando vemos uma pessoa ajudar outra, experimentamos um estado de bem-estar que os pesquisadores chamam de elevação. Em um ambiente de negócios, quando os chefes são justos e acreditam no trabalhado, eles melhoram a moral dos seus empregados, que, por sua vez sentem-se mais felizes, leais e comprometidos, além de serem mais propensos a agir de uma forma útil sem que haja um motivo particular. Criar uma cultura de bondade na empresa, então, é contagiante e faz sentido nos negócios.

Assim, você pode ensinar os colegas de trabalho a serem mais tolerantes? Os cientistas dizem que sim, a compaixão é como uma aptidão física, na medida em que pode ser cultivada e mantida através da prática. Pense nisso como um exercício para encontrar o seu lugar feliz. Os pesquisadores da CCARE desenvolveram um programa de treinamento de compaixão de oito semanas com base, em parte, nas práticas e princípios da psicologia social do budismo tibetano.

Esses estudos se concentram em técnicas de colaboração e resiliência e meditação. As pessoas que passam pelo treinamento sentem mais empatia pelos outros e são mais felizes, mais satisfeitos, menos estressados ​​e menos solitários. As sessões são organizadas com semanas de antecedência, e são abertas aos trabalhadores de todas as áreas, desde professores até médicos.

“Nós treinamos as pessoas por meio da meditação guiada e com exercícios específicos em sala de aula”, diz Monica Hanson, uma professora que tem ensinado o programa compaixão em Stanford há quatro anos. Em uma aula, por exemplo, é trabalhada a abordagem de pessoas ou situações difíceis, assim como acontece no local de trabalho. Em outra, os participantes pensam em situações reais quando se sentem maltratados e, em seguida, escrevem cartas de apoio para si mesmas.

A professora Monica Hanson tem o cuidado de salientar que esse tipo de pensamento não é mágico, e sim um trabalho, uma prática diária.

A prática de escutar bem, aprender a aceitar os desafios e pensar em como trabalhar com colegas difíceis de se relacionar pode parecer suave, mas é um exercício pragmático.

“Ele não só ajuda as pessoas a serem mais felizes no trabalho, mas também a investirem nele com um claro senso de prioridade e eficácia”, diz Monica Hanson.

Em Santa Clara, Dalai Lama descreveu a vida do trabalho moderno como “uma grande máquina”, da qual somos todos uma parte. Como animais sociais, todos nós precisamos cooperar para o sucesso, disse ele. Enquanto discursava, olhava todos nos olhos, tantos quanto eram possíveis. Apesar do egocentrismo que domina o negócio, ter o outro como alvo é realmente melhor para a sua linha de fundo. “Para o seu próprio interesse, ajudar os outros é realmente melhor”, explicou.

© 2014, Newsweek

Continue Reading

Copyright © 2023 The São Paulo Times