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10 anos agoon
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Os hippies, a bolsa de valores e a crise em que você se encontra hoje
A sociedade funciona em ciclos. O que hoje é legal é exatamente o que será negado pela geração de amanhã.
Os anos 70 foram marcados pelo hippies, com seus pelos, kombis, maconhas e música. Já os anos 80 foram marcados por outros personagens sociais igualmente importantes e opostos: os yuppies.
Se os hippies tinham medo que a EUA e União Soviética acabassem com o mundo de repente e por isso defendiam a natureza, mulheres peludas, a liberdade, o amor , as tetas caídas, roupas bizarras e o sexo, os Yuppies usaram esse medo pra correr atrás de dinheiro, sucesso, modernidade, terninhos, putaria e tecnologia. Ou seja, aproveitar a vida ao máximo antes que alguém apertasse o botão errado.
Nada mais justo, se nos anos 80 Magal, Gretchen, Matthew Broderick e até o Leoni fizeram sucesso e curtiram a vida adoidado, não devia ser tão difícil.
E numa época em que a bolsa de valores podia aumentar seu capital consideravelmente de uma hora para outra, pessoas com pouco a perder tinham muito a ganhar. Foi o que eles fizeram. Ganharam dinheiro aos montes, alcançaram o sucesso cedo e viraram exemplo para uma geração inteira, retratados em livros e filmes de Hollywood.
Assim surgia o mantra americano do “1º milhão de dólares antes dos 30 anos”, como se todo mundo tivesse condição e obrigação de conseguir isso.
Mas a grande mudança que eles trouxeram para a sociedade é que, até aquela época, uma pessoa começava a trabalhar aos 16 ou 17 anos, trabalhava muito para sustentar sua família e chegava aos 40 com aquela sensação de que a vida não tinha servido para nada. E isso deu origem à famosa Crise dos 40 anos.
A solução era plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, mas no fundo o que acontecia é que as pessoas percebiam que nada disso tinha valido o esforço.
– Ainda estou pensando na ideia de que o Leoni fez muito sucesso nos anos 80, mas vamos em frente –
Os yuppies mostraram que isso não era mais uma obrigação. E quando essa geração teve seus filhos, da metade dos anos 80 para o final, criaram as crianças em salas acarpetadas, com iogurte vazando das geladeiras e sem a obrigação de antigamente de trabalhar, sustentar uma família e logo criar sua própria vida medíocre.
E quem nascia assim, a Geração Y, no caso, aproveitava a vida boa gerada pelos pais até mais tarde, começava a trabalhar já com seus 20 e poucos anos, com a ideia de que o sucesso dos pais e seus contemporâneos seria facilmente repetido por eles. Essa certeza do sucesso os leva a exigir mais de seus empregos. E de si mesmos. Mas quando chegavam ao mercado de trabalho e percebiam que ele estava inundado de pessoas na mesma condição, com as mesmas capacidades e habilidades, e que não chegariam ao primeiro milhão antes dos pais, o mundo desmorona.
As meninas menstruam mais cedo, os rapazes transam mais cedo, os casais abortam mais cedo, eles entram em faculdades melhores que os pais, eles entendem de tecnologias novas, como eles podem não ter sucesso mais rápido que seus progenitores? Para eles, a conta não fecha.
E por isso os empregos nunca estão bons, as pessoas nunca sabem avaliar suas capacidades, tudo está sempre errado porque o mundo lhes deve um sucesso que eles não conseguem alcançar. E já que eles fazem tudo antes dos pais, a crise dos 40, agora, chega aos 30.
E a questão não é mais o trabalho repetitivo e chato. É não ter feito nada relevante, não ter do que se orgulhar, fazer só o que tem que ser feito e não ter como matar os amigos de inveja nas redes sociais, exceto por fotos esparsas de momentos que não são constantes.
E quando a Sandy, filha do Chitãozinho e Xororó, canta que é “jovem pra ser velha e velha pra ser jovem” aos 30 anos, tendo ganhado seu primeiro milhão aos 7, é porque a geração tá na merda mesmo.
Hoje, vivemos mais e melhor, mas aos 30 já estamos nos culpando por não ter conseguido o que queríamos, como se não tivéssemos mais chance de conseguir. Junte a isso um ataque feroz à nossa auto-estima através de facebooks de pessoas sempre felizes e realizadas, mas que nuca somos nós; de filmes pornôs caseiros falsos que nos dão a falsa sensação de que tem sempre alguém transando mais e melhor que a gente; a auto-ajuda e suas lições de sucesso que não funcionam e nos fazem pensar que a culpa é nossa; e ao mundo inteiro, de forma falsa, jogando na nossa cara que todo mundo consegue o sucesso, menos você. Na verdade quase ninguém consegue. Ou os psicólogos não estariam tão cheios de trabalho.
Então, se hoje, você está na beira dos 30 anos e acha que a situação tá ruim, que o trabalho é uma merda e que você merece mais que isso, a culpa tem grandes chances de ser do modelo que você adotou de vida, baseado nos filmes do Tom Cruise que assistia na Sessão da Tarde.
E enquanto isso, nunca se vendeu tanto remédio pra depressão e dor de estômago. Os novos Yuppies devem ser os que investiram na fabricação de anti-depressivos.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano.
© 2014