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Pelos olhos de Romeu

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Camila

Pelos olhos de Romeu

José Saramago, no filme “Janelas da Alma” fala que se Romeu, de Shakespeare, tivesse olhos de falcão, provavelmente não se apaixonaria por Julieta. A toque de curiosidade: quando está caçando, o animal enxerga presas pequenas a 1500 metros de altitude. Com uma visão assim e uma distância tão curta entre o casal, sua cútis seria algo parecido com o solo craquelado do nordeste em épocas de seca. Um tanto nada atraente.
Metaforicamente, quantas vezes o ser humano se apaixona por outra pessoa, pela ideia que tem dela, pelo que acredita que o outro é, pela beleza que se vê no brilho da pele, dos olhos e no que acredita ser sua atitude? E quando consegue a aproximação, tantas vezes desejada, em seu lugar se enxerga um deserto de emoções, de sentimentos e valores controversos?
Quantas vezes a hipermetropia sentimental atinge pessoas que se encantam pela ideia que faziam do outro, mas, ao ficar tão próximos, depois de um tempo percebem que o brilho dos outros estavam na sua forma de enxergá-lo e não no ser amado? Quantas vezes, mais que a intimidade de corpos nus, e sim de almas desnudas, nos trazem à tona, uma verdade tão profunda quanto a pele de Julieta, vista quase que microscopicamente, se Romeu tivesse olhos de um Falcão?
Há o que tenha sua magia e seu encanto quando visto tão de perto. Mas, principalmente em se tratando de gente, é preciso estar preparado para se enxergar tão miúdo sem perder o encanto.
É preciso entender e aceitar no outro o que motiva seu sorriso, mas também compreender o momento de seu choro. Para se enxergar de perto, é necessário saber sorrir junto e deixar o outro no seu canto, quando o silêncio pede solidão. É necessário saber compreender suas explosões: de euforia e fúria; estar preparado para todas as estações emocionais: lindos raiares de sol e trovoadas insanas.
Para se enxergar o outro de perto, sem perder o encanto, é preciso ter a paciência que, às vezes, só o amor permite. É preciso deixar a hipocrisia de lado e aceitar o erro e as vontades alheias. Para se enxergar o outro de perto, sem perder o encanto, é preciso saber se enxergar por inteiro, com todas as suas possibilidades de amores – das saudáveis às insanas. É preciso aceitar-se por inteiro, doar-se por inteiro, para que possa receber, dentro de si, e para si, alguém tão especial que possa mudar a nossa lente e enxergar o brilho da pele com o coração de Romeu e os olhos de um falcão.

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Camila Linberger é relações públicas, sócia-diretora da Get News Comunicação, agência de comunicação corporativa e assessoria de imprensa sediada em São Paulo. © 2013.

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