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Petrobras: já não é hora de passar o bastão?

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Foto: Petrobrás

Foto: Petrobrás

A Petrobras vem apresentando dificuldades na geração de caixa em decorrência dos esforços para honrar compromissos relativos aos investimentos no pré-sal, cujo retorno poderá demorar entre cinco a dez anos. Devido a uma política nacional fragilizada, a estatal engessa parte do seu capital de giro, enfrentando também dificuldades com o autofinanciamento das importações de petróleo dos países parceiros, tendo que alinhar, ainda dentro desse panorama, o cumprimento das metas fixadas no mercado internacional.

A política populista construída por membros do conselho de administração está afundando a companhia em um enorme endividamento. A posição da Petrobras vem atrelada a uma avalanche de situações complexas, principalmente com subsidiárias no exterior, algumas delas encerradas e outras incorporadas sem transparência. Muitas  empresas incorporadas estão sofrendo denúncias de prováveis desvios, inclusive sobre a inexistência de uma auditoria externa para analisar os valores efetivos. Vale lembrar, que algumas delas estão localizadas em paraísos fiscais, o que indiscutivelmente facilita fraudes e má gestão de recursos.

E agora, eis que surge um minoritário a desempenhar o papel de “pedra no sapato” dos acionistas da Petrobras. O senhor Romano Allegro acusa –  e torna pública – a possibilidade de má gestão de recursos da empresa, aliada à participação de membros do governo federal nas aprovações de manutenção do preço do petróleo a ser aplicado às distribuidoras. Situação incômoda para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um dos participantes do Conselho de Administração da Petrobras, que na realidade defende interesses do governo e prejudica os pequenos acionistas que deveriam ser defendidos pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

A política de aumento dos combustíveis por meio de gatilho não agradou o mercado. A falta de transparência agrava a situação e a estatal  poderá perder seu grau de investimento. Para piorar, a agência de avaliação de risco Standard & Poor´s rebaixou a nota do governo soberano e arrastou a Petrobras para a mesma situação. Passou de BBB para BBB-, representando um investimento arriscado.

Um mercado tenso e preocupado gera instabilidade nos preços. Tanto o valor médio por ação, de R$ 20,63, está muito abaixo do patrimonial, de R$ 27,19 por ação segundo resultados apurados no fechamento do dia 23 de julho. Fator que aumenta o custo de financiamentos para complementar o capital de giro.

Outro aspecto, que agora poderá tornar-se pauta na avaliação, refere-se aos custos do petróleo: qual será o custo de extração e por quanto a empresa conseguirá importá-lo? A possibilidade de que o custo de importação ainda possa ser menor do que o da produção no país não está descartada, comprometendo os resultados dos investimentos realizados. Hoje a importação é mais cara do que os custos de produção interna, desde que a empresa esteja em plena capacidade produtiva.

Diante de sucessivos escândalos, dificuldade de geração de caixa e falta de recursos para investimentos, não seria o momento de se considerar a privatização? Essa é a proposta que a ala governista não quer ouvir. O abuso de poder está manchando a imagem da empresa, que sempre foi orgulho nacional, e entregando ao acionista um rendimento pífio.

Talvez a única forma de mudar tudo isso seja a substituição do comando e o corte imediato da interferência do governo dentro das operações da empresa. Até hoje é difícil acreditar que vendemos as plataformas da Petrobras para melhorar o resultado da balança comercial com a elaboração de um contrato de locação. Essas fantasias, provocadas pela contabilidade criativa, geram problemas de ordem conjuntural. Já é hora de passar o bastão para quem é competente!

Por Reginaldo Gonçalves, coordenador de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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