
Agora o The São Paulo Times conta com uma coluna dedicada à poesias chamada “Poética Urbana”.
Ela será publicada toda sexta-feira. Para colaborar envie sua poesia para poesias@thesptimes.com.br.

Marcelo Leandro Ribeiro
O espelho e a virgem
(Marcelo Leandro Ribeiro)
Não sabe o pássaro do alpiste, a bolsa da crise
Nem as traças do livro em cujas folhas se abrigam
Não sabe a virgem que é triste morrer com um lacre
E que abrir-se é o que sonha escondida em sua carne viva
Tanto que atiça a vontade de soltar-se, ser fluida fenda
Que voa e canta de encontro à brisa que a bolina
Penugem de um só corpo que se desafia
Não quer saber dos outros, quer a chave
Ser livre, abrir-se, partir-se entre tantos amores
Doar-se ao vento e a quem voe por entre coxas e seios
Por entre pernas e pelos que se disfarçam, quer tê-los
Não quer a moça ser virgem, suas pernas flamejam
Escorrem o tormento de se querer mulher, mas ainda
Sem dentro ter de um homem o fermento que a faça
Mulher por inteiro, liberta libertina que nua se encontra
E que se toca escandalosa contra o vento, as pernas abertas
O mundo, lampejo, enquanto o pássaro vive do alpiste
A bolsa de crises e eu a observo do espelho
A porta
(Marcelo Leandro Ribeiro)
Ele bate, nada espera
Ela abre, viu quem era
Ele entra, já com ela
Beija a noite que
Se encerra….
Marcelo Leandro Ribeiro é escritor, poeta e letrista. Engenheiro nas horas vagas e palestrante nas noites pagas.
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Adri Aleixo
Eu, Biela
(Adri Aleixo)
Ao sair do viaduto
perdida
na tarde andrajosa
de Borges
chovendo mundos
em Beagá
eram os ipês
cor-de-rosa
e Vismundo
me chamando.
O Bom Samaritano
(Adri Aleixo)
Vi o bom samaritano
empurrando sua bicicleta
com pesada bagagem
estrada acima.
O sol ardia
em seu velho
dorso descoberto.
Pensei em todos
outros bons
samaritanos
que havia conhecido
em bares
hospitais e
beira de estrada.
Precisada de sua
companhia
voltei
mas era tarde.
Lady Godiva
(Adri Aleixo)
Gostava de seguir tendências
leu certa vez em uma vitrine
: menos é mais!
despiu-se do cavalo.
Dança
(Adri Aleixo)
Chove?
-Não, chuvisca!
E essa palavra era dança
parecia estar coberta de sol.
Apoteose
(Adri Aleixo)
O verbo pulula
salta de boca
em boca
entre céus
palato dentes
digere
contrários
amanhece
percussão.
Adri Aleixo, poeta mineira de Conselheiro Lafaiete, vive em Belo Horizonte onde atua como Professora e consultora em Linguagens. Possui textos publicados em sites e revistas literárias. Publicou em 2014, Des.caminhos, pela editora Patuá.