
Agora o The São Paulo Times conta com uma coluna dedicada a poesias chamada “Poética Urbana”.
Ela será publicada toda sexta-feira. Para colaborar envie sua poesia para poesias@saopaulotimes.com.br.
Do preconceito de Levy
(Marcelo Adifa)
Nega-se tanto aquilo
Que se deseja esconder
Esconde-se por baixo
Do pano o sentido da vida
Até o bem querer
Quem muito desdenha
Tem inveja de quem se
Revela, ciúmes da coragem
Que cala em sua própria
Existência,
nega-se para
proteger o silêncio em que
desnuda-se aquilo que quer
esconder
Quando porém, negação vira ódio
O preconceito é doença, o olhar
Desfocado não merece respeito
Nega-se aquilo
que teme descobrir
Ao olhar-se no espelho
—-
Menino do Panfleto
(Marcelo Adifa)
Estende a mão o menino
Panfleto, candidato sorriso
Prometendo lutar por mim
Como se eu não soubesse
O que fazer ou precisasse
De alguém
Pergunto se já comeu,
Diz que não, a van não
Passou, ganha uma marmita
E dez reais por dia pra carregar
quinze quilos de panfletos
e deixar nas casas,
não pode jogar no bueiro
Que tem sempre alguém de olho
Não pode descansar na praça
Pois sempre alguém o espanta
Não pode ir embora pra casa
Pois nessas horas o viaduto
É dos carros
E o candidato, do sorriso
Sindicalista, petista
ainda tem coragem
de falar que
Vai lutar por mim
—-
A reinvenção do verbo
(Marcelo Adifa)
Reinvento pelo verbo
O delírio, o prazer da
Carne em companhia,
Palavra que se toma
Por crível condutora
Das ações do dia-a-dia
Reconheço via vento
O seu cheiro entre as
Flores que abrem-se
Em setembro, vejo
Em seus olhos estrelas
Que se querem poesia
Reinvento a escrita
O suplicio, os caminhos
Repasso papeis e contextos
Reciclo da lua o brilho
Dou um passo
Sento e escrevo
A poesia tem início
—-
Estrela da noite
(Marcelo Adifa)
Deu-se que na noite
Em que você chegou
a janela estava
Fechada,
nada vale
A luz que irradia,
Se minha alma
Adormece
—-
Eclipse
(Marcelo Adifa)
Encontro como que por acaso
Teu sorriso cruzando a esquina
Porém, por mais que eu corra,
Sempre se distancia antes
que a abrace
distante, até que em eclipse
a face da lua se enlace
no sol que ofereço
—-
Por trás das portas
(Marcelo Adifa)
Entre portas mistérios se assentam
Finos fragmentos de memórias ou
Filamentos esparsos tapete abaixo
Para além da soleira tempo incerto
Os pés limpos sobre o capacho,
A alma encardida é um relicário
Onde os pecados são guardados
e o quarto véspera da consciência
ilumina-se com as vestes rasgadas,
sem máscaras o homem é sonho
—
Marcelo Adifa, Consultor de Empresas, Engenheiro e Poeta Paulista.
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Poética Urbana. © 2014.