
Agora o The São Paulo Times conta com uma coluna dedicada a poesias chamada “Poética Urbana”.
Ela será publicada toda sexta-feira. Para colaborar envie sua poesia para poesias@saopaulotimes.com.br.
Da natureza dos homens
(Marcelo Adifa)
Preso ao teu corpo
Seguro a nuca e mordo
Marcando na pele o gozo
Com que me esparramo
Urra, leoa em seu recuo
Alva, de lisos cabelos
Sobre teus pelos meus dedos
Num assanho se alongam
Beijo teus seios, me calo
Faço morada em tuas coxas
E antes que a próxima noite caia
Somos olhares que se eternizam
—-
Corpo e flor
(Marcelo Adifa)
Goteja a pele aberta
Cada gota de seu sangue
E na poça que se forma
Há mais vida que a morte
na carcaça ossos aparentes
Fervilham e desmancham
Dissolvendo-se lembranças,
No peito que nos chama
Separadas as costelas
A luz entra pelas frestas
Interna ao corpo, altiva
Uma única flor se espreguiça
Se lá estava antes de exposta
Só ao corpo cabe a consciência
E como um segredo que esconde
Cala-se num último sorriso
—-
Do pó da terra
(Marcelo Adifa)
Dos dias o passar do lúmen
Sorrateiro em meia estrela
Sol em sua cegueira que põe
Vistas sobre o homem, decai
Não há o que anime àquela
Que se faz no dorso da carne
E regozija quase sem vida
Livre como o nada ter de seu
Sombra sem semblante
O que só se vê no eclipse
Dos olhos de Deus, feito
Aquele dia que, em piscar
Fez-se mundo do pó da Terra
O corpo, esse não importa
Mas quando a alma morre
Anjos choram de tristeza
—-
Segredaria
(Marcelo Adifa)
Durante a noite
o sol se esconde
No peito dos homens
aquece o sangue
expande a alma
Mas continua
segredo
da madrugada
—-
Marcelo Adifa
(Beijo de luz)
Descubro
longe de casa
que o Sol não é igual
àquele que reside
nas fundas memórias
da minha infância
O beijo de luz,
passado a limpo,
queima mais do que
aquece
—-
A máquina
(Marcelo Adifa)
Pensa em sabotar a máquina
afrouxar seus parafusos,
romper as correias que unem
as partes,
estourar engrenagens
Mas no caminho o pegam
(ou pagam?)
logo aparece nas assembleias,
quer ser deputado, presidente
forma sua claque,
conta votos como
quem separa garrafas
Eleito,
não esquece da máquina
agora a opera
impedindo que outros
queiram-na por fim
—
__________________________________________________________________________________________________________
Poética Urbana. © 2014.