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Poesias para sexta-feira

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poetica

Agora o The São Paulo Times conta com uma coluna dedicada a poesias chamada “Poética Urbana”.
Ela será publicada toda sexta-feira. Para colaborar envie sua poesia para poesias@saopaulotimes.com.br.

pimenta
(Amanda Vital)

a pimenta vermelha
encontra seu abrigo
meio aos brancos lábios

pimenta gozo de moça
se devora com cuidado

pequena, mas perigosa
ela te derruba na cama
queima, arde, ateia, inflama
tem efeito prolongado

pimenta gozo de moça
só se abre com os dentes
de quem quer comê-la pura

doma o ardor, saliva a doçura
e deixa só suas sementes.

—-

costas arranhadas
(Amanda Vital)

quem cai na minha cama
sai com as costas arranhadas

é minha marca registrada

essas unhas de menina
quebradas e vermelhas
vivem cheias de gula

não resistem à tentação
da pele que se afunda

os dedos fazem caminhos
guiados pelos orgasmos
meu tesão é na ranhura

todo o gozo marcado
do cóccix até a nuca.

—-

sutiã
(Amanda Vital)

menina tira o sutiã
e deixa exalar o cheiro
do seu perfume favorito

cheiro de pele suada,
fadiga, ternura e libido

o quarto todo se acende
com a graça dos seus seios
após um dia maçante

mamilos rijos descansam
a pele rósea constante

o vento que vem da janela
ainda que tímido e brando
afasta toda a sua quentura

a pele abandona as marcas
lateja e retorna à brancura

toda a beleza do mundo
nos seios da menina nua.

—-

melancia
(Amanda Vital)

cuidado com essa menina
com esses lábios úmidos
que pingam doces sucos
feito melancia madura

tudo o que ela faz
contigo durante a noite
a boca dela dedura

não diz palavra alguma

só deixa que escorra
com o licor dos prazeres
a deleitosa denúncia.

—-

seiva
(Amanda Vital)

fervilham os desejos
e todos os gozos
na seiva do meu corpo

o coração insiste
em queimar o passado
mas esse é incombustível

e sai ferindo a boca
descontando suas mágoas

então sorva desses lábios
vermelhos e encarniçados
cada dor embrasada

o desgaste da alma,
os venenos e as pragas

que seu beijo renova
todo o sangue perdido

faz brotar novas veias
arrancar velhos fios

faz meu passado arredio.

—-

bruxa moderna
(Amanda Vital)

a bruxa moderna
tem um gato preto
entre as pernas

e uma estante cheia
de poções literárias
das mais poderosas

pó de beauvoir
sementes de ruiz
asas de líria porto

e magia negra
de elisa lucinda

ninguém a queima
em fogueira alguma

ela é o próprio fogo
da revolução

cozinhando versos
– seus maiores feitiços –
em um caldeirão.

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Poética Urbana. © 2014.

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