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Por onde anda?

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CassioZanata

Por onde anda?

Por onde anda a bússola, para a gente se achar na cidade sem céu ou estrela? Por onde anda o amigo, preciso lhe encontrar para ajudar a me encontrar.

Por onde anda o chopp pastel pão francês coxinha canudinho de doce de leite chicabon que a intolerância a glúten me proibiu?

Por onde anda, digam, por onde anda a moita das sensitivas – e desculpem a insistência.

Por onde anda o tempo que diminuiu tanto?

Onde o Bar do Nunes, para a gente achar a risada e a leveza e a música que quebra o silêncio? Por onde anda o silêncio, vontade de gritar, o que só afastaria de vez o silêncio.

Os bailes da Associação, tão cafonas de tão lindos?

Por onde anda Tom, Baden, Vinicius, Bandeira, Drummond?

E não me venham com esse papinho de que eles já se foram, por Deus.

Aliás, cadê Deus que anda meio sumido?

Sumido como anda um Brasil leve e bom, onde a gente tinha que esperar a maré baixar na praia, para a jardineira caindo aos pedaços poder passar.

Por onde andam as mãos dadas que se namoram em público?

Por onde anda a maluquice, o se perder e o profeta do fim do mundo que errou feio na previsão?

Onde andam as espinhas que sumiram dos rostos da meninada?

O rádio AM ouvido de madrugada, ouvido bem baixo para não acordar o resto da casa? E nossos LPs, jogados fora por acreditarmos, os tolinhos, que os CDs os aposentariam de vez?

Por onde andam os tatus-bolinhas e mandruvás? Os vira-latas, como os fuscas, eu sei, andam por Guaxupé, Muzambinho e adjacências.

Por onde andam as placas de “compro ouro”? O cabelo roxinho das tias? O apito do guarda na madrugada que aos pais trazia segurança mas a mim, temor?

Meu juízo, por onde anda?

Por onde anda o trio elétrico onde eu tocava guitarra, levava choque no microfone, caía lá de cima nas freadas e era a alegria mais desafinada do mundo?

Onde a lata chutada na madrugada que descia a ladeira batucando no paralelepípedo?

Por onde anda você que sumiu de vez?

Por onde – por aqui, por ali, lá, alá, por onde?

Ô, gente mais perdida feito eu.

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Cássio Zanatta é natural de São José do Rio Pardo, o que explica muita coisa. Escreve crônicas há um bom tempo – convenhamos, já estava na hora de aprender. © 2014.

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